Por Pedrinho Salomão.

Em um mundo barulhento, cheio de ruídos pra lá e pra cá, nos acostumamos com o plim de alertas de notificações de smartphones, de gente escutando mensagens no viva a voz como se o vagão do metrô ou a sala de espera do médico fossem a sala de suas casas, somos incomodados pelo som alto nas praias, pelas buzinas da impaciência da cidade grande.

Como se não bastasse, o barulho invadiu as empresas, as casas, os templos…

Líderes se aperfeiçoam na oratória, produzem podcast, videocast, lives.

Líderes só se reconhecem líderes quando fazem barulho. A fala alta, a voz impostada, a indumentária adequada nos fazem perder o foco no que importa: fazer e não falar.

O mundo, esse que eu e você vivemos, produz muitos workshops de liderança, de como falar em público, de como “formar” novos líderes…

Antes, deveríamos formar escutadores. Deveríamos promover cursos de escutatória. A evolução da humanidade não se deu no barulho e sim no silêncio. O silêncio que lhe permite escutar o coração, de assim usá-lo no exercício da liderança, da paternidade, da cidadania ativa.

Quem não escuta não acessa seu interior!

Finalmente, aqui, faço um convite: experimentemos o silêncio também na arte de liderar. A liderança pode e deve ser silenciosa.

Olhe ao seu redor, quantos líderes silenciosos que fazem aquilo que tem que fazer! O pão da padaria que é feito todos os dias em um ritual ordinário e sagrado. O motorista do caminhão que abastece nossos mercados, que dirige com maestria ordinária todos os dias para que não fiquemos sem alimentos? O médico do plantão, o gari do bairro, o policial da esquina… todos repetindo dia após dia suas funções que fazem o mundo andar.

A liderança efetiva, ativa e transformadora, é muito mais sobre tudo aquilo que está na Ordem do dia do que sobre aquilo que está extra, externo, extremo.  Em outras palavras, é mais sobre sermos ordinários, termos encantamento por tudo aquilo que se repete dia a dia do que pelo extraordinário.

Líderes silenciosos moveram o mundo até aqui e serão a salvação de um mundo que recebe o progresso tecnológico e científico com, infelizmente, menos humanidade, menos escuta e menos afeto.