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O Agente Secreto: VOZ assiste em primeira mão em Portugal

O Agente Secreto: VOZ assiste em primeira mão em Portugal

Resenha pela nossa diretora de produção.

Por Mariana Bezerra, diretora de Produção da Voz Futura

Na última quarta-feira, a Voz Futura foi convidada para a sessão de “O Agente Secreto”, que aconteceu no Cinema São Jorge, em Lisboa. A casa estava cheia, uma sessão lotada com 830 brasileiros e portugueses reunidos na sala Manoel de Oliveira, para prestigiar o novo filme de Kleber Mendonça Filho, protagonizado por Wagner Moura.

O filme tem um tom bastante pessoal e através do personagem pernambucano vivido por Moura (Kleber também é pernambucano), somos conduzidos por mais uma história profundamente brasileira, que transita entre o gênero do realismo político e o fantástico/terror. Gêneros já explorado por Kleber em outras obras, por exemplo como Bacurau, mas que retorna aqui de forma mais sutil e simbólica.

“O Agente Secreto” já passou por diversos circuitos internacionais e Festivais recebendo elogios consistentes da crítica, sendo inclusive ovacionado em Cannes em maio de 2025. O filme chega aos cinemas em Novembro.

A atuação do elenco é excepcional, com destaque especial para Wagner Moura, que mais uma vez entrega um personagem cheio de nuances. Sua performance sustenta a narrativa com fluidez, tornando o enredo envolvente e de fácil acompanhamento, apesar de sua densidade temática.

Ambientado em Recife, em 1977, durante os anos da ditadura militar brasileira, o filme acompanha Marcelo (Wagner Moura), um professor e especialista em tecnologia que retorna ao país após o exílio. Ele vem em busca do filho e de arquivos relacionados à sua mãe. Ao chegar, ele assume uma identidade falsa, envolve-se com dissidentes do regime.

Com quase três horas de duração, o filme surpreendentemente mantém o público envolvido do início ao fim, o que ficou evidente na sessão. Essa recepção revela a força e a relevância do tema abordado que não é uma obra que se curva às exigências comerciais: não tem pressa, não explica demais a história dos personagens e mistura elementos do thriller político, drama familiar, fantástico e até do horror psicológico, que se entrelaçam de forma orgânica.

A fotografia, a cenografia e o figurino são pontos altos do filme. Os tons quentes e saturados evocam uma Recife da década de 70, contrastando seus sombrios interiores com o calor das ruas da cidade. A montagem alterna respiros longos com cortes secos, criando um ritmo que reforça a tensão da narrativa.

Wagner Moura leva o filme com uma atuação impecável, com um personagem introspectivo, um homem deslocado tanto do país quanto de si mesmo. Em tempos de narrativas aceleradas e muito explicativas, o diretor e roteirista, Kleber Mendonça aposta nessa ambiguidade. O filme apresenta de forma muito corajosa esse trauma coletivo e a violência institucional da ditadura.

Ao final da sessão, saímos com a sensação de ter vivido uma experiência cinematográfica daquelas que incomodam, que ecoam e ficam na cabeça. O Agente Secreto não é apenas uma obra sobre o passado do Brasil, é também um lembrete de que certos fantasmas como o autoritarismo e o silenciamento da ditadura continuam entre nós.

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