Um conto sobre amor em que o protagonista reflete sobre como a ausência de destino pode ser mágica e a sensação de que alguém vai se tornar importante para você.
Ele não esperava nada daquela manhã de setembro quando, voltando do mercado, a ouviu cantar pela primeira vez.
Ele já tinha acreditado no destino e seus agregados, mas hoje isso já parecia ter sido em outra vida. Suas namoradas de adolescência escutaram tanto sobre almas gêmeas e metades da laranja e coisas que simplesmente são pra ser.
Não foi um momento ou um amor específico que mudou tudo, mas sim os começos e fins acumulados. Em algum lugar entre a menina de cabelo azul escuro que ria alto e a fotógrafa cuja mãe nutria por ele um ódio mortal, algo havia se perdido.
Pelos últimos anos, ele vinha amando com pressa, pela metade. Ele se arrastava entre amores de verão e de inverno, os esticando por quantas estações pudesse, conseguisse. Estava cansado, exausto de tentar, é a verdade, mas não descansava sozinho porque era humano, e, como todos nós, desesperado para amar e ser amado. Sentia que estava correndo atrás de algo que nem existia. Em algum lugar no meio do caminho, ele tinha feito uma confusão quase fatal: que a não-existência do destino de alguma forma implicava que o amor não era mágico assim.
Ele vai continuar não acreditando em destino ou almas gêmeas ou metade da laranja, mas toda vez que olhar dentro de seus grandes olhos pretos, ele vai pensar que se pessoas nascem um pra outra, ele teria nascido pra ela, mas que bom que não nascem.