Por Pedrinho Salomão
Pela segunda vez nessa semana, vi uma postagem de um dos grandes treinadores da base carioca, Rodrigo Melick, falando sobre o cuidado com as crianças no processo de formação. Só por isso já seria legal, mas o que mais me chamou atenção foi sua definição desses pequenos que estão levando o esporte a sério. Dizia ele: são crianças diferentes, mas são crianças!
Tem uma dose interessante de sabedoria e necessária reflexão no uso da palavra diferente.
Byung Chul Han, filósofo Sul Coreano, já dedicou alguns recortes para criticar o inferno dos iguais. A tentativa sistemática de igualar todos, confundindo igualdade com Equidade. Somos diferentes, e que maravilha assim sermos.
Empresas, famílias , times encontram equilíbrio, evolução e mais capacidade de adaptação quando as diferenças dos seus aparecem apara ajudar a entender o mundo. O esporte, e sobretudo o futebol, arrisco dizer, é uma tábua de salvação, para criar mulheres e homens fortes em tempos estranhos de protagonismo (apenas) de internet.
Como ponto de partida, a presença objetiva da derrota e da vitória. Quem perde, perde, e isso não é reversível! E quem ganha, pode perder na próxima partida. Conviver com a derrota é a melhor forma de valorizar a vitória.
Seguimos, com a importância do coletivo. Não importa o quão talentoso e especial seja um jogador, sem
O todo de nada adiantará. O futebol, e todas as demais modalidades, valorizam o processo, o treinamento, a caminhada. Ou vc passa a gostar do processo, ou ficará pelo caminho! O esporte exige uma saúde física e mental em dia. Sem essa combinação o músculo pode entregar a maior velocidade mas a mente pode abreviar sua presença em campo. E a mente equilibrada pode lhe fazer entender o jogo, mas sem o físico, de nada adiantará.
O sono, a alimentação, o repertório, a escuta são ingredientes fundamentais para o sucesso e a performance.
O que é a vida senão o insistente processo ordinário de ganhar e perder, de se alimentar bem, jogar, contemplar, dormir e saber? De precisar do Bando para viver?
Quem escolhe o esporte em alta intensidade para filhos os torna diferentes nesse mundo de iguais. De crianças criadas com pânico da vida, do outro, das relações sociais e das derrotas!
Serão diferentes pois entenderão o tempo das coisas, do mundo, da germinação necessária antes da colheita.
Diferentes dos desistentes crônicos que não conseguem terminar projetos por medo de falhar. Tudo lindo, se deixássemos educadores educarem, formadores formarem e nós pais , fôssemos apenas torcedores, motivadores apaixonados.
O verdadeiro amor não é aquele que funciona como uma rede de alambrado, que te protege mas te machuca e sim como aquela rede de trapezistas que te deixa experimentar a queda mas ao fim de impulsiona para voltar para o picadeiro, ou o campo, após um erro, uma falha, uma decisão errada.
Lutamos, e eu luto também, contra nossos impulsos vaidosos, para contemplar o processo de um atleta, que se não viver disso no futuro , com certeza, levará para sua vida o esporte como guia e elixir para aceitar as contingências da vida com mais serenidade, resiliência e fé no processo.
Fiquemos atentos para não atrapalhar o esporte, que desde da Grécia antiga, funciona como formador de caráter.
Viva o esporte, vivam aqueles que se dedicam a educar através do esporte.
Para os demais, nós, pais, resta vestir a camisa com o rosto e o número do filho, gritar palavras de incentivo e nada mais.
Cuidado, porque a diferença entre o remédio e o veneno, na maioria das vezes é a dose!


