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Kerolin: entre sonhos e o poder de inspirar

Kerolin: entre sonhos e o poder de inspirar

Atacante do City fala sobre força emocional, disciplina e finanças.

Por Danilo Luiz, fundador da Voz Futura

Kerolin vive uma história que atravessa o campo. Antes de ser uma das maiores promessas do futebol feminino brasileiro, ela precisou aprender — na marra — que resiliência é um músculo que se treina todos os dias. Entre desafios pessoais, lesões, mudanças bruscas e recomeços constantes, ela descobriu uma força interna que nem sabia que tinha. Hoje, no Manchester City e com espaço cada vez maior na Seleção, segue renascendo como quem já entendeu que a verdadeira vitória acontece primeiro dentro da gente.

Mas a trajetória da atacante também é feita de escolhas conscientes. Kerolin fala sobre metas financeiras, sobre aprender com os próprios erros e sobre o desejo de construir uma vida estável para ela e para quem caminha ao seu lado. E, acima de tudo, fala sobre missão: usar sua voz para mover outras meninas, acender pequenas luzes e provar que o sonho vale a pena — desde que venha com disciplina, verdade e coragem para recomeçar quantas vezes for preciso.

Você é uma das grandes promessas do futebol feminino brasileiro. O que mais te inspira a seguir em frente nos momentos difíceis?
O que me inspira em seguir em frente aos momentos difíceis, eu acho que a própria dificuldade, é lembrar de onde eu saí, onde eu quero chegar, o que eu tenho que fazer nesse percurso no meio do caminho, né? E acho que uma das coisas que também me mantém firme é a minha família, é a vida que eu quero ter. Me inspira saber que pessoas também se inspiram em mim, que eu sou a força, a fortaleza de alguém, me dá força para poder seguir, acreditar. Acho que também eu sempre tive pessoas comigo, ao meu lado, que acreditam nas minhas coisas. Também está na palavra de Deus. Depois do choro vem a alegria, então eu acredito muito nisso e sempre tento colocar coisas boas, metas que vão me impulsionar a passar por esse processo, fortalecer e voltar forte.

O que o futebol já te ensinou sobre você mesma que você não imaginava descobrir?
O futebol, ele me ensinou, me mostrou a força que eu tinha dentro de mim, que eu não sabia que eu tinha. Ele me ensinou também que disciplina é o amor. Me ensinou que sabe quando você está cansada, quando você duvida de você, quando você está machucada, quando todas as coisas viram um ponto de insegurança, de dúvidas… você tem que continuar, mesmo sem saber o que vai acontecer, você continua. Você tem força, você renasce. Eu acho que o futebol me ensinou a renascer das cinzas várias e várias vezes e quantas vezes foram necessárias.

Uma das coisas mais importantes sobre o início da carreira é saber se organizar financeiramente. Você estuda esse assunto? Como você se organiza nesse sentido?
Esse assunto é muito importante. No início da minha carreira, não tinha ideia de como me organizar e não fiz isso. Mas acredito que fui melhorando conforme o tempo foi passando, com algumas experiencias. Teve uma vez que, logo no início quando eu comecei a jogar futebol, que eu fui pra seleção, a gente ganhava R$ 1.500 por convocação. Na época, era um luxo. Eu ia na Baby Calçados, comprava aquele tênis da adidas, comprava roupa, um bando de coisa, ajudava a minha mãe. Gastava tudo na mesma semana que eu recebia. E assim foi. E aí lembro que tem uma música do MC PH, que diz:

“É que os primeiros cem mil, quando cai na sua conta, é inesquecível
Primeiro você torra, aprende, investe e cresce de nível”

E é literalmente isso. Porque quando caiu eu gastei, não me organizei, e depois quando eu precisei não estava ali. Tive também duas pausas na carreira que me mostrou o quanto é importante organizar sua vida financeira. A gente tem às vezes os valores altos muito rápido e depois não tem nada se não se organizar, não investir. Eu estudo sim sobre o assunto, porque agora eu tô sempre tentando aprender para fazer o que eu acho certo com as minhas finanças. Tenho metas na minha cabeça. É preciso entender que eu sou o alicerce da minha casa, então eu preciso investir. A meta que eu tenho é manter o padrão de vida que eu tenho agora quando parar de jogar futebol. Simples, mas que que possa ter liberdade para eu fazer o que eu quiser. A segunda meta é conseguir ajudar mais pessoas, quem merece, ser um canal de mudança. Tive muitas pessoas que me ajudaram na minha história, de formas diferentes. Eu quero ajudar também de uma forma que eu acho que vai poder ser válido para as pessoas.

A gente nunca sabe o dia de amanhã, pode acontecer algo que faça você parar por um tempo, uma lesão, e aí? É preciso ter uma reserva. É preciso saber que você se organizou, que fez o certo. Os desafios e as experiências ruins também me ajudaram a aprender. Nunca vai acontecer algo na sua vida sem motivo algum, então eu aprendi, eu evolui.

Como você sonha usar sua voz e sua carreira para inspirar outras meninas?
Eu entendo que o futebol pode ser um movimento de cura, um movimento de ajuda, um movimento que salva as vidas. E acho que atletas como eu e você, fomos escolhidos para esse movimento. Vai muito além só do jogo de futebol dentro do campo. Tem muita responsabilidade. Quero muito ser exemplo de dedicação, de superação, de renascer quantas vezes for necessária. As pessoas me chamam de fênix, então acho que eu pego isso pra mim como uma responsabilidade boa de falar: “pô eu renasço, os desafios não derrubam, eu tenho essa força, eu sou resiliente”. Quando as pessoas veem isso, independente da dificuldade que ela está passando, ela fala: “eu vou conseguir”. Então eu quero, onde eu passar, deixar algo plantado dentro do coração de cada pessoa, mesmo que seja um pouquinho, que eu mude de certa forma alguma coisa que acenda uma luz, que o amor e a esperança voltem, que as pessoas tenham fé que vai dar certo. Acredito no sonho, então vejo como um movimento de mudança, de oportunidades, sabe? Quando eu penso na minha voz, é isso que eu quero: mudar vidas, ajudar, plantar, inspirar, motivar, entender que o sonho vale a pena. Você precisa trabalhar duro sempre, ser honesta sempre, que as coisas elas voltam pra você de alguma forma. Então, literalmente, quando você planta, você colhe. Então, eu creio que esse é um dos movimentos da voz que eu quero, que as pessoas lembrem de mim.

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