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Em Trânsito: Se o “novo luxo” é ter paz, como chegamos a isso?

Em Trânsito: Se o “novo luxo” é ter paz, como chegamos a isso?

Por Pedro Pirim Rodrigues, cofundador da Voz Futura

Há mais de 10 anos eu participava de um workshop no Instituto Rio Moda em uma casa na Gávea onde ficava a galera do O Estúdio – bem maneiro por sinal. No Workshop, o Rony Rodrigues, fundador da BOX1824 (não sei se usam o 1824 ainda), falava sobre tendências de mercado e sobre… sim – luxo.

Na época, o Rony, sempre muito à frente do nosso tempo por estar tão antenado (adoro essa palavra) a tudo que corria e ocorria pelo mundo, falou algo que me marcou e que para mim ainda é uma grande verdade: “O luxo não está na extravagância das coisas. Está na precisão daquilo que escolhemos fazer”. Seja com o nosso tempo, dinheiro, forma de viver a vida. Por “precisão” entenda “eficiência”, não necessariamente “necessidade de acertar”. O conceito aqui não é ser um relógio suísso que nunca erra os segundos, mas sim em poder se dar ao luxo de fazer escolhas com consciência, consistência e convicção. 

Ao meu ver, isso nos levou a era do minimalismo, onde virou bacana ter menos coisas. Talvez até “menos demais”. Porta retrato, por exemplo, foi um item praticamente eliminado das casas dos mais jovens. Qualquer item que precisasse ser transportado em caso de mudança foi retirado. Eu adotei bem esse conceito “minimalista” durante a pandemia. Passei a ter 1-2 malas e a minha vida material estava ali – inclusive em livros e cadernos. Deixei muita coisa pra trás.

Poder se dar ao luxo de deixar coisas pra trás por opção é porque em tese você já tem muito. Quem pode fazer isso? Poder deixar coisas para trás é também fazer uma limpeza daquilo que não te serve mais. Eu evito carregar muitas coisas comigo, porque além do peso material que elas carregam, também trazem em si o peso energético (pra quem acredita nessas coisas), peso histórico, memórias, afetos e desafetos. Em todo caso, prefiro deixar para trás. 

Além de coisas, é preciso também saber deixar pessoas para trás. Essas, provavelmente, são as que mais pesam e sugam sua energia. Também são as mais difíceis de deixar. 


Recentemente eu li alguns trechos e depoimentos do antropólogo e autor do livro “Coisa de Rico”, Michel Alcoforado. Uma das citações me chamou atenção: “A PAZ talvez seja a grande tendência, e o maior luxo, da próxima década.” Talvez o Michel tenha razão em muitos níveis e não só naquele que aparenta ser o da primeira vista. Paz, para mim, está nesse processo de saber “deixar ir” e de desapego que o budismo tanto tentou ensinar. O ocidente ainda tenta ir lá buscar alguma coisa. Mas é “muito longe” fisicamente, intelectualmente, emocionalmente e filosoficamente – “ir lá”. Então tentamos fazer por aqui com o que nos resta – em meio ao caos.

Mas paz é algo que se compra, algo que se conquista ou é um estilo de vida? Ou seria, a paz, um estado de espírito? Ou é uma combinação de tudo em que para se atingir essa paz é preciso fazer essa equação funcionar? É claro que existem contextos, recortes e circunstâncias sociais em que talvez seja impossível ter paz. Principalmente onde se faz guerra. Principalmente em regimes e governos em que as “lideranças” (entre aspas porque não são – ao meu ver) não estão interessadas na paz. Porque paz, ao meu ver, novamente, é ter menos. E essas pessoas querem sempre mais. Mais poder, mais controle, mais território, mais tudo. Devem estar compensando a falta de afeto de suas mães e dos seus pais.

“Filho, abrace sua mãe. Pai, perdoe seu filho. Pais é reparação, fruto de paz. Paz não se constrói com tiro. Mas eu o miro, de frente, na minha fragilidade. Eu não tenho a bolha da proteção.” – trecho do poema AmarElo do Pastor Henrique Vieira – que aqui me parece fazer todo sentido mundo.

Se paz é luxo, então luxo é isso. É viver nessa “bolha da proteção”. É poder se dar ao luxo de amar e ser amado, de perdoar e ser perdoado. De deixar ir, em paz, sem precisar olhar para trás. Paz também “não se constrói” com um tiro.

Em outras leituras, luxo é ter tempo, luxo é poder gastar ou usar sem se preocupar. E no limite tudo isso, ao meu ver, parece estar resumido no conceito de paz. Agora, o quanto é possível ter paz na sua vida? 

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