Por Danilo Luiz, cofundador da Voz Futura.

1º ato: A Ascensão 

Um barulho incrível no estádio do Dragão. Enquanto eu me movia, de forma calma mas enérgica, semblante fechado, olhar perdido por aquele momento mágico, apenas pensava: “Mantenha a calma, a equipe precisa de você lúcido em campo!”

Era Julho de 2011 e eu começava no Futebol Clube do Porto de Portugal como a 2a  contratação mais cara da história do clube. Após o Santos, aquele era o início da minha aventura no Velho Continente. Minha camisa era a de número 2, uma das mais históricas e importantes do clube, usualmente vestida pelos capitães. 

No meu primeiro jogo, lembro de me levantar para o aquecimento e escutar os torcedores, “adeptos” para os portugueses, fazerem um estrondo. Quando entrei em campo, minha experiência de jovem adulto deu espaço a energia de menino, e eu corria o gramado todo, quase sem respeitar as instruções do treinador. Um rebelde com uma causa: Dar meu melhor… Mas os capítulos seguintes não foram assim tão satisfatórios. 

2º ato: A Queda

Um barulho incrível vinha de dentro de mim. E não era bom sinal. Não era do canto da torcida nem no Estádio do Dragão. No momento exato que eu caí, tinha a certeza que tinha me lesionado sério. Como se estivesse em câmera lenta, pouco a pouco eu conseguia sentir o ligamento do joelho se esticando além da conta, os ossos batendo um contra o outro e me causando uma contusão. As lágrimas, a saída no carrinho dos médicos, a tristeza, e a pergunta: “Por que comigo? Por que agora?” Era a minha estreia em uma competição europeia contra o Manchester City e eu precisaria de 3 meses de recuperação. Acreditem, é mais difícil se recuperar longe de casa.

No meu retorno, não tive a performance das minhas expectativas nem dos torcedores e amantes do clube. Passei a ser muito cobrado e isso só me jogou para baixo. Vivi dias tristes questionando a mim mesmo, meu desempenho e buscava sempre uma saída, uma fuga. Buscava algo ‘ fora de mim’ para encontrar as justificativas. Queria ser destaque, ter reconhecimento, mas ao mesmo tempo questionava o motivo de chegar 1h30 antes dos treinos, questionava os métodos de preparação na academia, comia mal, dormia mal, pensava mal. Agora era um rebelde sem causa indo contra uma matemática bem simples. Até o dia em que pensei: “O que eu quero de verdade? Honestamente. Ser mais um que apenas passou  pelo futebol europeu e voltar ao Brasil com esse selo? Ou marcar meu nome de maneira diferente e vencedora?” A resposta estava implícita. 

3º ato: A Volta por Cima 

Passei então a observar jogadores que já tinham conquistado o patamar que eu buscava, e a copiá-los literalmente. Fazer os mesmo trabalhos na academia, cumprir os mesmos horários, me alimentar da mesma maneira, treinar como eles treinavam. Até as falas e os gestos eu imitava. Pouco a pouco fui encontrando a maneira melhor para mim, mas sempre olhando aqueles que tinham conquistado o que eu também queria. Demorou um tempo, sabe? Não foi logo na primeira semana, nem mesmo no primeiro mês, mas os resultados vieram. Eu tinha muito mais energia, eu tinha muito mais confiança, eu jogava e me desempenhava muito melhor. E o mais importante ainda, contagiava com essa energia e  essa motivação. 

Foi uma história linda. 4 anos vestindo as cores do Clube do Porto, sendo reconhecido, admirado, e aos 23 anos capitão da equipe. Mais do que isso, sentindo que eu representava os valores daquele clube, que sempre foram trabalho e sacrifício. Não foi fácil, nossa caminhada sempre encontrará momentos onde precisamos decidir o que queremos fazer para passar para o próximo estágio. Mas se tenho um conselho de amigo: “Seja honesto com você!” Muito do tal sucesso que a gente busca, quase sempre está na nossa mudança de atitude, na nossa maneira de abdicar e fazer sacrifícios, e na entrega daquilo que queremos de corpo e alma. Sempre vale a pena!