Por Giulia Amendola
Em um país onde a cobertura esportiva ainda é majoritariamente masculina, a W Content vem reescrevendo esse roteiro com vozes e trajetórias femininas. Fundada por Juliana Manzato e hoje liderada ao lado de Isabela Daneluci, a agência se consolidou como referência na interseção entre conteúdo, influência e esporte feito por mulheres. Mais do que representar atletas ou conectar marcas a talentos, a W quer promover uma transformação estrutural no modo como o esporte feminino é visto, narrado e remunerado.
Com uma curadoria atenta e um casting diverso, elas apostam em histórias que ainda não chegaram ao mainstream, mas carregam potência transformadora. Nesta conversa com a Voz Futura, as fundadoras falam sobre maternidade, empreendedorismo, desigualdade de gênero e os pequenos passos que, reunidos, estão redesenhando o lugar da mulher no esporte. De boas práticas no marketing de influência, de visibilidade para o esporte feminino e de representatividade nos bastidores do setor. Uma força criativa e estratégica por trás de conteúdos, marcas e trajetórias de atletas brasileiras que têm muito a dizer — e agora, também, espaço para serem ouvidas.
A W CONTENT se descreve como a agência de conteúdo e influência de mulheres no esporte. De onde veio esse desejo? Como ela surgiu e o que se tornou nos últimos 11 anos?
A agência veio primeiro de uma necessidade da fundadora, Juliana Manzato, que buscava nas agências de marketing de influência melhor gestão e transparência para seus projetos de conteúdo. Nesses primeiros 8 anos de existência, além de criar conteúdo, a Juliana também trabalhou como executiva de contas para canais de mídia e escreveu sobre esporte feminino para projetos como ESPN W. A mudança da W Content como agência dedicada a mulheres no esporte aconteceu desse encontro da Juliana com a Isa, que também apaixonada por esportes, buscava deixar a carreira da área editorial acadêmica. Iniciamos essa nova fase da agência reunindo perfis de mulheres esportistas de diversas regiões do Brasil e diversos esportes, compartilhando ideias de conteúdo e levando os perfis delas às marcas de interesse. Foi um momento muito importante para validar nossa metodologia e construir uma forma de estruturar esse trabalho de mulheres e esportes de forma mais profissional e estratégica.
“A transformação das mulheres no esporte é o nosso negócio, com o intuito de ser o grito de despertar das mulheres para o esporte” – essa descrição está na bio de vocês do LinkedIn… como está sendo esse despertar?
Nós acreditamos que a igualdade de gênero é um caminho melhor para todos. Mas esse caminho é cheio de obstáculos e no esporte não é diferente (às vezes os obstáculos se tornam ainda mais difíceis de ultrapassar nessa área). Está mais que provado que o esporte é uma ferramenta social poderosa e para meninas e mulheres é instrumento de empoderamento, autoconhecimento e independência. Trabalhar esporte como negócio é também um propósito. Uma atleta bem remunerada é capaz de alcançar grandes feitos no esporte e se tornar inspiração para novas gerações. Uma esportista com bom conteúdo influencia outras muitas pessoas a buscarem um estilo de vida melhor. Uma jornalista trará uma visão especializada e se comunicará de forma que mais mulheres também se interessem pelo esporte. Quando fechamos bons projetos para elas, é muito gratificante pois sabemos que o esporte é caro e ter o valor do seu trabalho reconhecido financeiramente também.
Como funciona a curadoria de atletas e produtoras de conteúdo?
Somos uma agência boutique pois o atendimento individual é uma prioridade. Para fazer um bom trabalho precisamos ter tempo dedicado e ouvidos atentos. Nós sempre nos preocupamos muito em manter um casting diverso e ficamos de olho nas tendências esportivas. Nosso intuito é olhar para oportunidades onde ninguém está olhando. Temos um processo cuidadoso de avaliação e algumas conversas para identificar conexões e alinhar expectativas.
O que vocês mais ouvem delas? Algo chama atenção?
O esporte ainda é extremamente elitizado e machista. Muitas agenciadas compartilham relatos desde má remuneração até casos de assédio. Muitas nos buscaram por somente atender mulheres e também pelo expertise em conteúdo esportivo. Também existe a falta de transparência de agências nas negociações e pagamentos. Nós nos dedicamos muito para que elas saibam a quem estão sendo apresentadas, quanto cada uma irá receber e de que forma será feito esse trabalho. Ainda existe muito preconceito e objetificação com as mulheres que se expõem no ambiente digital para falar de esporte.
Quais são os principais desafios de empreender nesta área? E as delícias?
Presença e ausência se cruzam muitas vezes. Somos mães de crianças entre 1 e 2 anos, vivemos um momento muito importante de crescimento dos filhos e da empresa ao mesmo tempo. E ser uma agência que representa tantas mulheres é lidar com a fragilidade de que nós mesmas também temos: lidar com as frustrações de cada uma quando um projeto não vai bem, quando uma marca não retorna uma proposta, quando não dão crédito por uma ideia. Ser resiliente é cansativo, mas nossa energia se renova todas as vezes que uma delas vence, seja no esporte, seja na parceria comercial. Para as sócias da W que um dia foram meninas que sonharam ser atletas, é uma enorme felicidade trabalhar com uma paixão e fazer parte dessa mudança que é as mulheres conquistarem espaços que por séculos nos foram proibidos ou inacessíveis. Por isso, nosso lema é Esportes (Re)unem as Mulheres.
