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Em Trânsito: quando você focar, você vai voar.

Em Trânsito: quando você focar, você vai voar.

Uma reflexão sobre o desafio de saber focar.

Por Pedro Pirim Rodrigues, cofundador da Voz Futura.

Em algum momento vocês ainda vão conhecer a Leila. Sim, aquela mesma do outro texto que escrevi semana passada. Ela é a autora dessa frase aqui de cima e que escolhi como título para essa coluna. Eu acho tão engraçado esse nome “coluna” pra quando a gente se refere a um texto que vai para o “jornal” (A VOZ Futura é uma plataforma de conteúdo propositivo – todo dia eu repito isso pro meu time e para os clientes e parceiros com os quais conversamos. Repito por uma questão de foco, principalmente para mim mesmo). Ao mesmo tempo, acho que dá um ar de seriedade e importância essa coisa de “coluna”. Como quando a gente quer se referir a algo que é fundamental para a construção de outra coisa relevante e falamos que aquilo é a “espinha dorsal” da coisa sobre a qual estamos falando. Sacou? Em inglês fica bonito também: “backbone”. Quantos políticos já usaram essa expressão. Eu te digo, com a ajuda do chatgpt, é claro (porque não vivemos mais sem ele). Roosevelt: “The small farmer is, and always must be, the backbone of our agricultural economy.”, Obama: “The middle class is the backbone of this nation’s economy.”, Lula: “O trabalhador é a espinha dorsal da nossa economia.”. 

Roosevelt, Obama, Lula… Quanta gente importante em um único parágrafo. Os classificamos como políticos porque os elegemos assim. Mas também os vejo como empreendedores. Empreendedor pra mim não é alguém que “abre uma empresa” como vejo muitos dizendo por aí: “Ah, agora eu não quero mais trabalhar em uma empresa. Decidi que quero empreender”. Nessa nossa mania infinita de colocar tudo em “caixinha”, decidimos que quem trabalha em uma empresa, ou que é contratado para fazer algo e que opta por ser CLT (hoje em dia quase um xingamento), é tido como: “trabalhador”, “carreirista”, “empregado”. Como se isso fosse diferente do ser empreendedor. Mas se não é, então qual é a diferença fundamental entre esses dois seres, se é que existe? O lance não é sobre abrir uma empresa ou trabalhar em uma. Também não é sobre “ter ou não ter” um chefe, como alguns pensam. Até porque quem empreende tem e sempre vai ter “chefe”. Porque no limite estamos sempre fazendo alguma coisa para alguém. Se não é para o seu “chefe” é para o seu “cliente”. Não se iludam, você está e estará sempre trabalhando “para alguém” (forte isso, né?).

Já se foi o tempo em que dizíamos: “as pessoas não sabem o que elas querem até você dizer para elas”. Isso na época em que a gente colhia informação de 1 a 3 meios de informação em massa no máximo. Hoje em dia eu tenho pelo menos 29 veículos de (des)informação, 38 abas abertas para a mesma pesquisa, 277 resultados diferentes para cada uma, e em cada uma das janelas que abro, conversas que início, grupos que crio, e scrolls infinitos que dou, posso me deparar com mil avaliações, comentários e opiniões do mesmo assunto. Ou seja, eu continuo sem saber o que eu quero, mesmo com um monte de gente me dizendo o que, como, onde e quando eu deveria querer. 

O meu “problema” inicial abordado no título dessa coluna / espinha dorsal não é exclusivo a minha pessoa, não me faz diferente, nem único, muito menos é diagnóstico de TDAH. É um sintoma comum a mim e a qualquer um que nasceu em meio a tantos estímulos propagados por telas-tocáveis-deslizantes, luzes cintilantes e conteúdos delirantes. A droga do século XXI é a possibilidade inesgotável de gozar de tudo sem precisar ir, sem precisar estar, sem precisar ser. Imagina que confusão maluca na cabeça que isso não dá? É tanta coisa que fica realmente difícil focar. É aquela história do “paradoxo da escolha” – sobre o qual recomendo demais que assistam esse vídeo. Em um mundo onde se “pode ter tudo com apenas um clique”, contraditoriamente ficou mais difícil escolher. E tá aí uma característica básica que, talvez, e, apenas talvez, diferencie o ser empreendedor dos outros seres – Escolher. Fazer escolhas, tomar decisões… Parece simples e fácil, não é? Mas pode ser para muitos um baita desafio. A partir do momento que você se coloca nessa posição de “tomador de decisão / liderança”, você também assume a responsabilidade do risco, da culpa e do erro. 

Em algum vídeo do Obama, que não achei agora, ele fala sobre como essa é uma das habilidades mais difíceis de encontrar – tomar decisões – sem entrar no mérito de certo ou errado, simples e puramente escolher tomar uma decisão. Até porque é muito mais fácil realmente só dizer o que está errado e não fazer nada a respeito (é o que a maioria faz nas redes sociais e por isso se tornou tão atrativo viver atrás das telas).

 No papel parece bonito esse negócio de “liderar” e estar a frente, mas puta que pariu, como é difícil e como a gente erra. E daí, além de você fazer as escolhas que você acredita que são as certas, você precisa tomar a decisão de confiar a outras pessoas aquelas que seriam as suas decisões para as quais você não tem tempo de resolver porque precisa focar naquilo que é o mais importante, para você, e também naquilo que você faz melhor. Você precisa decidir e aceitar que não é bom em milhares de coisas para decidir focar nas que você é realmente bom e então conseguir fazer um bom trabalho.

Tomar decisões exige coragem e vulnerabilidade – salve, Brené Brown; é saber que “cada escolha é uma renúncia” – salve, Charlie Brown Jr.; e é finalmente perceber que “quando você focar, você vai voar” – salve, minha amiga Leila. Como será que esses caras todos – Lula, Obama, Roosevelt – conseguiram liderar com foco, ao mesmo tempo que precisavam fazer tantas escolhas? O quão obstinado e obcecado você precisa ser para chegar nesse lugar de atenção plena, tomada de decisão, risco, erro, responsabilidade, aprendizado, capacidade de gerenciar expectativas, capacidade de lidar com a frustração?  

Em um mundo de tantas possibilidades, informações e opiniões, parece cada vez mais difícil construir essas habilidades sem se distrair e sem se sentir diminuído em uma sociedade que exige produzir tanto. 

Como faz para focar? Como faz para voar? 

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