Por Julia Carvalho, jornalista, para a Voz Futura
De zero a dez, o quanto você acompanha o basquete nacional? Fã ou não, há grandes chances de você se apaixonar pela bola laranja depois de conhecer Gui Deodato, jogador do Flamengo, com uma longa lista de conquistas na carreira e consagrado um dos nomes mais bem sucedidos do basquete brasileiro.”
No caso de Gui, o interesse que se transformou em amor pelo basquete teve duas influências: “Foi uma identificação também que eu tive com o filme, Space Jam, Michael Jordan, e se enxergar, um cara que é preto também” e a visita do time de Bauru quando ele estava na escola “eu vi os caras perto de mim, os caras tocaram na minha mão e eu falei: caramba, eu quero ser igual a esse cara. Tipo, me dá essa faixinha de cabelo”, conta o Ala.
Mas esse bate-papo vai além do Gui atleta, sim atletas são seres humanos e não um robô programado apenas para entrar em quadra e jogar. Os olhos doGui brilham ao falar do basquete, mas quando o assunto é família e as mulheresfortes que o criaram e o moldaram o rosto inteiro se ilumina: “eu fui criado basicamente pela minha mãe e pela minha tia. A minha criação vem delas, de duas mulheres que são muito fortes e que fizeram de tudo para me dar tudo”.
Além da mãe e tia, a irmã, Maria Vitória, tem um lugar especial na vida de Gui:
“ela é uma criança especial, não desenvolveu a fala, então ela não alfabetizou, mas assim, ela nasce em 2002, eu já estava com 10 anos, e eu tenho um amor muito grande pela minha irmã”, destaca “ela é uma criança, que fez com que eu criasse mais forças para construir as coisas na minha vida, para eu ir atrás”.
O jogador conta que o mais desafiador de morar longe de Bauru é a distância da família, principalmente aos domingos por não estar presente em uma tradição da família: “Eles (a família) chamam isso de juntar as panelas, então é uma confraternização todo domingo. Isso me faz mal porque eu não tô lá. Eu tenho saudade das comidas, de estar junto com a galera. Então isso faz muita falta, a gente (no basquete) tem um calendário que a gente trabalhapraticamente Natal e Ano-Novo, ao mesmo tempo, faz parte.”
Apesar da saudade, o apoio da família é o que dá forças para Gui seguir forte e na busca por seus objetivos “Eu estou seguindo o meu sonho, realizando o meu sonho, que é de estar no principal clube do país, que é de estar jogando em alto nível, que é de estar na Seleção Brasileira”, destaca o jogador.
Depois de se consagrar campeão da América pelo Flamengo na temporada 24/25, Gui foi convocado para a Seleção Brasileira para jogar a AmeriCup 2025: “É uma satisfação muito grande você representar um país”.
Quando perguntado sobre a sensação de vencer times como os Estados Unidos e a Argentina e levar o Brasil de volta ao topo do basqueteinternacional, 16 anos depois da conquista da última copa ele reflete.
“Quando a gente ganha de times como Estados Unidos, por exemplo, mostramos muito o nosso valor e que só não somos mais constante nisso e só, talvez, não seja melhor de fato, porque não temos a estrutura necessária. E aí é até uma crítica mesmo, sabe? Eu acho que falta um incentivo maior, falta investimento, falta ajuda do poder público, não sei, falta, há muitas faltas. Então, nos pegamos no meio disso tudo defasados” Gui complementa
“Eu vejo que a galera busca muito, mas ainda falta coisas, falta toda uma estrutura para capacitar pessoas, para ensinar mais gente, porque tem gente que tá afim, tem gente que é capaz, tem muito material humano bom. Então são muitas coisas assim, mas é extremamente gratificante, porque a gente realmente mostra o nosso valor, sabe? Mostramos que podemos mais, e tentamos chamar atenção ao máximo para isso e trazer pessoas para o nosso lado”.
Entre lembranças da infância e o orgulho de vestir a camisa da Seleção, Gui também fala sobre o que o mantém equilibrado fora das quadras “estou nomomento de tentar procurar novas coisas e novos hobbies”.
Minutos depois Gui contou: “eu tenho uma grande paixão por cozinhar, isso vem de família, minha mãe, cozinheira de forno e fogão há uma vida”.
“A cozinha é um lugar que me traz isso, que me traz essa coisa boa”, destaca o Ala. Para muitos o atleta Gui Deodato é uma referência e pessoalmente o jogador também aprendeu a se ver dessa forma “Chegar para treinar no Flamengo e ver uma criancinha com a camiseta com o meu nome é uma coisa que não é pequena”
“Eu sou uma referência de um atleta preto dentro do basquete para algumas crianças, dentro do Flamengo, dentro da seleção brasileira, sabe. Em outro momento não foi possível isso, eu ter essa visão de que eu sempre fiz coisas para isso, mas eu não enxergava com tanta clareza que realmente tinha umimpacto”. E é como se o ciclo se fechasse, da criança Guilherme lá em Bauru em um dia de aula normal que foi impactado por um jogador de basquete, para o jogador profissional Gui Deodato que é o responsável por impactar a vida de várias crianças (e adultos) hoje.
Ele é embaixador do projeto social Payback Jr, que dá aulas de basquete no Rio de Janeiro, e compartilhou um pouco do que sente durante as visitas “eu quero estar junto, eu quero estar presente com essas crianças e poder estar lá, poder estar em contato, poder levar eles para os jogos, poder ir lá num dia de treinamento, passar meu conhecimento, passar a minha alegria. É muito bom assim, e o que é mais louco, assim, é que a gente vai para entregar uma coisa em relação a entregar uma esperança, tipo, para o moleque que está ali num lugar vulnerável, no mesmo que eu já tive, entregar uma esperança, um sorriso e o cara, tipo, uma criança olhar para mim e falar, caramba, você é grande,quero jogar igual a você, caramba, quanto você calça, sabe, de uma coisa assim, poxa, eu quero eu te ver, caramba, legal, estou te acompanhando agora, eu vou jogar contra você um dia, sabe, umas coisas assim, você fala, caramba. Só que eu recebo acabo recebendo muito mais coisas do que eu fui para entregar, sabe? Então, eu passo a receber um carinho. Acho que faz muito melhor para mim do que para as próprias crianças, assim, sabe? Mas é bom poder apoiar, eu apoio”, conclui Gui.


