Por Danilo Luiz, fundador da Voz Futura
Muito antes da assinatura do primeiro contrato profissional, Gabriel Dirceu já carregava uma certeza pouco comum para alguém tão jovem: a de que o sonho não era apenas possível, mas inevitável. Não por arrogância, mas por entrega. Desde os primeiros passos na base, o trabalho diário, a disciplina e a disposição para fazer mais do que o esperado foram moldando uma confiança silenciosa — aquela que não depende de aplausos, mas de convicção. Quando o profissional chegou, não veio como surpresa. Veio como consequência.
Nesta conversa, Gabriel abre o jogo sobre o lado menos romantizado do início da carreira no futebol: a distância da família, a pressão interna e externa, os momentos de dúvida, o tempo que nem sempre respeita o esforço. Ele fala sobre mentalidade, resiliência e sobre como aprendeu, cedo, que o maior investimento não está apenas em cifras, mas em si mesmo. Uma entrevista sobre crescer antes de aparecer, sobre aprender a dizer “não” e sobre entender que, no futebol e na vida, quem cuida do processo constrói resultados que duram.
1. Você ainda está no começo da trajetória no futebol profissional. Quando olha para trás, qual foi o primeiro momento em que você pensou: “meu sonho pode virar realidade”?
Então, na verdade, eu sempre sonhei com isso desde pequeno. E aí eu fui evoluindo em escolinha, me destacando até entrar na base. E ali que eu vi que as coisas realmente poderiam acontecer de verdade. Desde que eu entrei na base e eu comecei a realmente trabalhar duro, todo santo dia, isso criou em mim uma confiança muito grande que eu tinha certeza absoluta que ia virar realidade. Eu tinha certeza absoluta, eu não sei o porquê, só sei que o fato de trabalhar duro e eu comecei a tentar trabalhar mais do que todos os outros. E aí, embora seja uma coisa que eu sonhei muito, sempre sonhei, sempre planejei, é um sonho meu, da minha família, assim quando eu assinei o meu primeiro contrato profissional, eu lembro até hoje quando eu assinei, eu não senti diferença nenhuma. Eu já sabia que aquilo ali ia ser realizado, sabe? Eu já sabia que aquilo ali ia dar certo.
2. Em tão pouco tempo de carreira, qual foi o maior aprendizado que o futebol já te deu como jogador e como pessoa?
O futebol me deu grandes aprendizados que foram muito importantes na construção do meu caráter e para minha vida no geral. Eu diria que ficar longe da família, das amizades, das relações de uma forma geral, isso faz com o que vc dê mais valor a quando está com essas pessoas. Você entende mais o tamanho dessas relações pessoais. O maior aprendizado foi entender que nem tudo acontece como a gente quer. Lembro que desde a época da escola eu tinha essa vontade de ser o melhor em tudo que eu fazia, no futebol foi a mesma, sempre quis me destacar, evoluir. No futebol, você descobre que nem tudo acontece no tempo que você imaginou, correspondente ao trabalho que você fez. Às vezes eu era o primeiro a chegar, o último a sair, treinava melhor, mas às vezes não evoluia, não ia pro jogo. Tem que lidar com os companheiros, treinadores, com as críticas, com as fases ruins, com o gol que não chega, com o movimento bom que não chega. Com as coisas que às vezes parecem que não vão acontecer, mesmo com o preparo físico e mental. Embora o trabalho seja duro, isso cria resiliência e resistência. Cria uma força mental. Isso foi muito importante pra mim.
3. Muita gente vê só o lado da visibilidade e das conquistas, mas quais são hoje os principais desafios que você enfrenta como atleta jovem?
Depende de cada um, de cada vivência e tal. Mas, o que eu senti, pelo menos comigo, foi que as pessoas veem só os 90 minutos, né? As pessoas veem só o que é falado, o que é visto, mas os bastidores são muito diferentes da realidade. O desafio é que você sonha com uma coisa muito grande, mas até lá você tem que passar por um longo caminho. Por dor, lágrimas, sofrimento, suor. Isso tem a ver com os questionamentos que você mesmo faz, se você vai chegar, os momentos que você duvida de você, porque você acha que você não é bom o suficiente, você não é capaz. As pressões internas, né? De você manter o foco, manter a disciplina, apesar. Apesar de tudo que acontece, e a pressão externa, torcida, diretor, equipe, familiares. Então esse talvez seja o maior desafio, é a pressão interna e externa que você bota tanto pra conseguir alcançar aquilo, sabe?
4. Quando você pensa no seu futuro, dentro e fora do campo, o que te move? Que tipo de profissional e de homem você sonha se tornar?
Fora de campo, eu acho que o que me move talvez sem inspiração pros mais novos, sabe? Inclusive, há pouco tempo, fui em uma escolinha, uma das primeiras que fiz, conversei com o pessoal. Porque muitas vezes é desacreditado, por ser muito novo e pelas dificuldades. Então o meu objetivo é ser inspiração, mostrar que com o trabalho duro, com a mentalidade certa, todas as coisas funcionam. Isso é o que me move fora de campo. Dentro de campo, o que me move é crescer, evoluir, melhorar, todos os dias, dia após dia, cada vez mais, eu acho que é um trabalho infinito, um trabalho pra sempre, um trabalho que não para, sabe? Estar no topo, estar entre os melhores, estar entre os maiores. Prêmios, tipos de reconhecimentos, prêmios individuais, prêmios coletivos. Mostrar pra todos aqueles que duvidaram de mim que eu cheguei onde cheguei e vou além.
5. Para outros meninos que sonham em chegar onde você chegou, mas ainda estão começando, qual é a mensagem mais verdadeira que você pode deixar?
Tem uma coisa que eu sempre digo que é sobre a mentalidade. Você vê companheiros, amigos, histórias de pessoas muito boas, acima da média, mas que, por não terem a mentalidade certa, a cabeça certa, a disciplina correta para aquilo, não chegaram. Não tinha a parte mental adequada para alta performance, sabe? Essa mentalidade eu acho que ela é formada por atenção aos detalhes, atenção aos mínimos detalhes. Acho que eu diria que é mais sobre tirar do que sobre pôr. Muitas vezes a gente não precisa pôr mais alguma coisa, é mais sobre tirar, sobre dizer não para muitas outras coisas que aparecem na vida, sabe? E eu acho que é mais sobre isso. Então essa mensagem que eu diria para os mais jovens é que o trabalho duro recompensa. O trabalho duro, a disciplina, o esforço, o foco acima da média, eu acho que isso é o que recompensa.
6) Apesar do início de carreira, como você se organiza financeiramente? sabemos que no futebol lidar com dinheiro pode ser desafiador. Você investe ou é mais conservador?
Eu invisto, mas é um investimento em mim. Eu sou a favor do investimento em você. Eu acho que quanto mais você investe em você, você se potencializa mais. Então, você investe em uma equipe por trás de você. Você investe em equipamentos. Você investe na nutrição. Você investe em livros para estudos. Você investe em aparelhos que potencializam o seu sono. Suplementos que potencializam mais ainda a sua nutrição. Investir em pessoas para cuidar da sua parte extracampo. Eu acho que esse é o investimento mais importante: o investimento pessoal, o investimento em você. Porque o maior artigo que existe é você.
Você é uma marca, um artigo grande, poderoso, importante. Quanto mais potencializado você está, mais frutos dá, de forma mais exponencial.


