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Em trânsito: se errar é humano… Acertar é o que?

Em trânsito: se errar é humano… Acertar é o que?

Quem tem medo de errar?

Por Pedro Pirim Rodrigues, cofundador da Voz Futura.

Associamos o erro a uma característica que em tese nos torna mais, ou simplesmente, humanos. Ao mesmo tempo passamos a vida toda tentando acertar. Seja na escola, na faculdade, em casa, no trabalho ou nos relacionamentos, “na rua, na chuva ou na fazenda, ou numa casinha de sapê” (eu sei que você cantou junto – risos). O negócio é tirar nota boa, deixar a casa bem arrumada, ser bem avaliado, ganhar dinheiro, e ser sempre bom para o outro. Qualquer coisa ao contrário disso poderia ser considerado ou chamado de “errado”. No entanto, nesse pensamento que vos trago – humano. 

Quando somos crianças não sabemos e ainda não temos noção daquilo que é certo ou errado. Fato é que, por não sabermos, erramos muito mais do que acertamos. Para não nos culparmos tanto, chamamos o “erro” de “aprendizado”. (Amo a nossa capacidade de maquiagem linguística.) Mas a criança que erra, é colocada de castigo, apanha, é punida. O adulto que erra é visto como perdedor, e também é punido e apanha do seu jeito. Nem um nem outro é parabenizado pelo seu erro enquanto forma de aprendizado. Então algo lhes é retirado.

Mas o que perdemos exatamente? Apanhamos por que exatamente?

Dizem que aprendemos mais com os erros, mas passamos a vida toda tentando acertar. Não deveria ser ao contrário, então? Tentar errar mais, para aprender mais e só acertar de vez em quando? Se dizem que errar é humano e que aprendo mais com o erro, por que eu deveria querer tanto acertar o tempo todo?

Ficamos mais velhos e perdemos a capacidade de errar. Será que perdemos nossa humanidade juntos? Avançamos tecnologicamente em busca do acerto. O algoritmo que acerta meu gosto musical, a comida que eu quero comer, o seriado que eu quero ver, que direciona o produto perfeito pra mim, que me entende melhor ou para além da minha própria capacidade interpretativa. 

No trabalho, e na vida de um modo geral, substituímos humanos por máquinas, recorremos a inteligência artificial para nos trazer respostas e os resultados corretos. Se ela erra, brigamos com ela e nos aliviamos da dor ou da culpa de termos sido nós mesmos, os humanos que a programamos. Fico pensando que criamos algo que chamamos de Inteligência Artificial para dar conta de algo que é tão natural quanto a habilidade de errar. 

É tanta coisa querendo que a gente acerte o tempo todo que sinto que perdemos a nossa espontaneidade, nossa ingenuidade infantil, nossa capacidade de criar, e que, em primeiro lugar, foi a que nos fez capaz de errar, sem vergonha ou medo de julgamento. Será que foi errando criança que nos tornamos humanos, ao passo que acertando adultos nos desumanizamos?

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