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Em Trânsito: esse ano será medido pelas emoções que senti

Em Trânsito: esse ano será medido pelas emoções que senti

Será que um ano se mede pelo tanto de atividades feitas?

Por Pedro Pirim Rodrigues, cofundador da Voz Futura.

Algumas pessoas medem seu tempo pela quantidade de atividades que fazem. Medem intelecto pelo número de livros que leem no menor espaço de tempo. Medem distâncias percorridas contra o tempo que levou para percorrê-las. Medem a pressa como sinal de performance. Mas por que a pressa? Por que essa fissura do quanto mais, ou mais rápido, melhor? A linha de chegada é a mesma para todo mundo. Então calma. (Eu sei, ficou dramático… Mas aguenta firme) 

Eu costumava medir um ano pela quantidade de coisas que fazia. Número de viagens; ocasiões em que estive com os meus amigos; gestos e atitudes no meu relacionamento; vezes que encontrei ou que falei com meus pais (muito poucas, aliás); projetos; contratos fechados; dinheiro acumulado, dinheiro gasto (que alias era quase sempre o mesmo – olha só que coisa), quantidade de exercício; falta de exercício; como eu me alimentei; durante quanto tempo eu consegui manter uma alimentação ou uma relação saudável, o quanto eu bebi e fumei versus os dias em que não bebi nem fumei.

No final do ano, eu diria a mim mesmo para equilibrar melhor as contas, diminuir os excessos, aumentar a quantidade de ocasiões e ações que fazem bem para mim. Tudo para chegar no maldito equilíbrio, melhorar a lista de resoluções para o ano seguinte e sentir que tinha feito alguma diferença na vida das pessoas. (Mas será que existe altruísmo assim ou no fundo estamos sempre fazendo por nós mesmos?)

Dias antes da pandemia e da quarentena estourarem aqui no Rio eu tinha algumas viagens previstas, amigos para encontrar, contratos para serem fechados, negócios indo bem e a vontade, o que me dava certeza de que eu conseguiria ter um ano melhor que o anterior. (Em quantidade. Não necessariamente em qualidade. E que “bom” pela pandemia que veio pra mostrar algumas coisas que a gente não queria ver)

Com 3 meses de quarentena e uma série de expectativas que criei para mim mesmo sendo constantemente frustradas, comecei a olhar para o mundo e senti raiva. Depois comecei a sentir culpa e não muito tempo depois comecei a ficar com raiva por me sentir culpado e culpado por sentir raiva. Tomado pela raiva e pela culpa comecei a extravasar os meus sentimentos da maneira que eu sei fazer melhor: trabalhando. É fato que eu sou uma pessoa feliz trabalhando, mas esse trabalho todo nesse momento só estava me servindo para abafar outros sentimentos escondidos e para tentar sobrepor com novos sentidos o que eu estava sentindo. Mas o que eu estava sentindo?

Ultrapassamos a marca de 180 mil mortos. Corpos tratados como números. Almas perdidas em um mundo sem rumo. Nos anestesiamos através da média móvel de vítimas que aumentava a cada dia. Será assim que mediremos o nosso tempo a partir de agora? Será possível ser feliz em tempos como esses? Por mais que eu tentasse buscar felicidade, me sentia frustrado. Por mais que eu soubesse para o que eu vim, me sentia desprovido. Por mais que eu quisesse fazer coisas, me sentia impedido. Por mais que vestisse um personagem a cada dia, me sentia despido. Por mais, por mais, por mais… Pelo menos eu sentia alguma coisa. Agora eu sinto melhor. Sinto muito. Sinto mais do que gostaria às vezes.

Emoção e sentimento são complementares e dirão que o primeiro é uma resposta ao segundo. A palavra emoção vem do latim “emovere”: “e” = energia / “movere” = movimento. Não sei se a ordem desses fatores altera o resultado, mas o que me fez pensar, refletir, sentir, emocionar e aqui expressar, é que, a reclusão (parcial), fez com que a gente definitivamente tivesse mais tempo para a gente. Então o que eu posso dizer é: aproveitem esse aprendizado de se sentir. Aproveitem para se sentirem a si mesmos, para se amarem, e ficarem bem com vocês mesmos. Aproveitem para transformar esses sentimentos em emoções e se expressem. Porque quem não se expressa adoece. E daí que não importa a QUANTIDADE de viagens, encontros, trabalhos, projetos, movimentos, exercícios, terapias,

remédios e drogas que a gente construa, consuma e usufrua. Sentimento acumulado é que nem água parada. Nosso corpo é feito de muita água. Não deixe ela estática. Chore e se emocione. Olhe para o céu e se emocione. Veja uma planta crescer e se emocione. Veja a interação entre os bichos e se emocione. Ligue para seus pais e um amigo e se emocione. Conquiste e se emocione. Não meça um ano pela quantidade de coisas que você fez ou deixou de fazer. Mas sim pelas emoções que você sentiu, expressou, transbordou e deixou florescer.

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