Por Danilo Luiz, fundador da Voz Futura.
Eu só queria poder ir à padaria sozinho.
Esse era meu grande sonho quando tinha uns cinco ou seis anos. Pequeno para o mundo, mas enorme para mim.
Quem cresce no interior sabe: a liberdade de ir e vir chega mais cedo. E, para mim, conquistar o direito de ir ao bar do Sebastião — que era a nossa padaria — comprar o pão sozinho, significava que eu já estava crescendo, que meus pais começavam a me dar responsabilidades. Ah, se crescer e ter responsabilidades fosse apenas isso!
Lembro como se fosse hoje. Num domingo qualquer, pedi aos meus pais para ir sozinho. Eles hesitaram, pensaram um pouco… mas deixaram. Do barranco do campinho de terra, me vigiavam enquanto eu seguia pelo asfalto, munido de orientações essenciais:
“Olha para os dois lados antes de atravessar a rua.”
“Não fala com estranhos. Compra o pão e volta.”
E lá fui eu. Voltei são e salvo, com o pão nas mãos e uma alegria enorme no peito. Foi um dos domingos mais importantes da minha curta vida.
Depois, virou rotina. Eu já ia sempre ao bar do Sebastião, comprava o que fosse preciso para a casa. Até que, quando aprendi a andar de bicicleta, a caminhada perdeu a graça. Só queria ir se fosse de bike. Andando, já não queria mais.
Mais tarde, já com uns dez anos, ir à mercearia tinha perdido completamente o encanto. O que antes era uma conquista, agora era um peso. Minha mãe precisava insistir para que eu fosse. Aquilo que um dia foi sonho, tinha virado apenas obrigação.
E aí penso: quantas vezes na vida repetimos esse ciclo?
Quantas vezes desejamos tanto um trabalho, uma viagem, um amor… e, quando conquistamos, deixamos de enxergar o valor?
O carro dos sonhos que hoje já não nos importa se ganhou um arranhão.
A casa tão sonhada, onde já não paramos para tomar um café com calma na sala.
A pessoa especial, o grande amor da vida, que já não tratamos com a mesma dedicação.
Esse exercício sempre me acompanha: lembrar do quanto já quisemos algo, para não deixar que a rotina e o tempo roubem a importância daquilo que continua sendo especial.