Por Giulia Amendola, diretora de comunicação da Voz Futura.
Outro dia eu entrevistei uma menina mais nova que eu que disse o seguinte:
“Não me permitia ver que eu estava feliz.”
Em linhas gerais, ela estava presa a um sonho (que alguém tinha dito que era um sonho pra ela) e pautando toda sua vida em cima de uma expectativa que nem ela mesmo tinha. Entre as agonias de ter vinte e poucos anos, ela ainda estava tendo que lidar com a desconfiança da própria felicidade.
Tem coisa mais triste do que estar feliz e não (poder querer) sentir?
Sem dar muito spoiler, porque em breve vocês vão ver essa entrevista no perfil da Voz, ela dizia que era complicado sonhar “menos”, uma vez que ela tinha uma origem humilde e precisava sair “daquele lugar” (geograficamente falando) porque era isso que era esperado de pessoas da região dela que “ascendiam socialmente” (entre muitas aspas!!!) (E aqui eu não quero nem entrar na discussão sobre o problema de buscar ser “apenas” mediano. A maioria das pessoas obviamente não via se contentar (ou pelo menos não vai dizer) com isso).
Por que a gente tem tanto medo de mudanças de vento, de direção?
De onde que a gente tirou que mudar de caminho é uma traição com os nossos eus do passado?
Se eu pudesse falar com a minha eu mais nova, eu tenho certeza que ela acharia uma maluquice uma penca de coisas que se tornaram realidade (e que eu hoje adoro e não trocaria).
Quantas coisas bacanas acontecem no nosso dia que a gente não se permite enxergar? Quantas mini conquistas a gente não comemora porque se prende aos acontecimentos ruins? Até mesmo aquelas que a gente nem sabia que queria. Desde quando a vida para pra gente sentir? Tem que ser tudo misturado mesmo.
Existe, claro, uma infinidade de coisas que fazem com que viver no século XXI seja uma grande agonia. Mas também existe uma miríade de tantas outras que fazem o hoje o melhor que a gente poderia ter. A promessa do amanhã, dos caminhos abertos, é sim, um privilégio de poucos, mas que a gente precisa reconhecer quando aparecem.
Felicidade está longe de ser um sentimento linear, constante, preciso. Por exemplo, nesse momento, vivo um luto pessoal, eu não poderia estar feliz, poderia? Mas me sinto assim, porque adotei uma gata e ela me faz lembrar que recomeços são possíveis. Isso não desmerece nem o luto, nem a gatinha.
É impressionante o quanto a gente esquece disso.


