Por Giulia Amendola, diretora de comunicação da Voz Futura.
“Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?”. Já vi essa frase pichada pela cidade, já a vi compartilhada à exaustão na rede social (inclusive por mim).
A gente pensa muito sobre as primeiras vezes. Deseja muito as primeiras vezes, O primeiro sorriso de um bebê, a primeira palavra, primeira vez que engatinha, que senta, que anda. O primeiro beijo, a primeira vez, o primeiro emprego.
Normalmente a gente está atento a elas – tenta planejar, calcular. Fica de olhos e orelhas bem abertos esperando a hora que ela vai acontecer.
Mas e as últimas vezes? Essas a gente não controla, parece que nem percebemos quando as últimas vezes acontecem. É como se fizessem parte da vida. E aqui eu não tô nem falando de coisas tristes, despedidas, não.
Uma vez, li que tem um dia que nossos pais nos pegam no colo, nos dão beijos, nos abraçam e, em seguida, nos colocam no chão. E é última vez – só que ninguém sabe disso. Nem eles, nem a gente.
Não é para dizer que a gente faria as coisas diferentes. Mas fico pensando no que a gente sempre gostou fazer e, de repente, nunca mais fez?
E que a gente permite, sem saber, que (aquela vez que a gente nem lembra) seja a última.
Demorei muito para aprender a andar de bicicleta. Quer dizer, eu tive bicicleta de rodinha, depois mais velha ganhei uma sem rodas de apoio e aprendi. Dava voltas na pracinha na frente de casa, passeava cada vez mais rápido nas ruas do meu bairro, arriscava umas manobras na quadra de terra batida que tinha lá perto. Tecnicamente, eu aprendi a andar de bicicleta.
Mas, em algum momento, com uns 13, 14 anos, deixei a minha bicicleta na garagem do meu prédio e fiquei anos sem pegar nela. Depois dos 30, morando do lado do Aterro do Flamengo, um dos principais postais do Rio, pensei: meu Deus, quando foi a última vez que eu andei de bicicleta? O meu medo de cair já “velha e careca” era muito grande. Imagine eu indo trabalhar com cotovelo ralado, reunião com cliente no dia seguinte.
Eu nem lembrava mais como era andar de bicicleta. Se eu gostava ou não. Mas pedi para um primo meu ir comigo e lá fomos nós. Longa história curta – deixo aqui uma informação muito importante: a gente se esquece a andar de bicicleta, sim, tá? Não sei quem inventou que não se desaprende. De todo modo, desde então, vou pedalar de vez em quando, só para que a vez anterior não seja a última vez. E me lembrei que, sim, eu adorava!
O que me faz pensar: quais outras coisas, que eu adoro, eu fiz, em algum momento, pela última vez e eu nem sei? Não lembrar não significa que eu não goste delas tanto assim. A gente só é meio atravessado pela vida e precisa lembrar algumas coisas de tempos em tempos. E não precisa ser nada grandioso: pisar o pé na areia, parar para ler um livro (tá cada vez mais difícil), dar uma volta no quarteirão no meio do dia de trabalho (esse eu fiz ontem e foi bom para dar uma oxigenada nas ideias, recomendo!).
E ainda dá para levar essa reflexão para outro lugar: e quais são as coisas que a gente quer que sejam pela última vez? Hábitos que a gente não curte, mesmo, mas que insistem em invadir a nossa rotina?
Não dá para controlar tudo na vida. Na verdade, não dá para controlar quase nada. Mas (acho que) podemos nos permitir a escolher algumas das nossas últimas vezes.


