Por Ana Julia Silveira, da Rebento, para a Voz Futura
Correr na cidade é diferente quando não se enxerga. Cada buraco na rua, cada carro ou bicicleta passando de repente exige atenção e cuidado redobrado. O que para muitos pode representar um perigo intimidador, para os participantes do Instituto Atletas Guia Rio virou sinônimo de liberdade e confiança. Tudo começou em 2016, quando Paulo Costa percebeu que atletas com deficiência visual chegavam às provas sem treino adequado.
“Eles vinham para a maratona, mas não tinham ninguém para treinar. Muitos usavam esteira ou caminhavam com a bengala na rua, o que era arriscado”, lembra.
Paulo começou ajudando alguns corredores próximos e, logo, mais pessoas se interessaram. O projeto cresceu naturalmente e, em 2024, tornou-se oficialmente um instituto. Treinar quem guia é tão importante quanto preparar quem corre. Paulo explica que o maior desafio está justamente nessa etapa:
“Correr por conta própria é diferente. Quando você corre com alguém que não enxerga, precisa estar atento a cada passo e ao que está à frente do outro”.
Hoje, cerca de 40 atletas participam regularmente dos treinos, acompanhados por uma média de 20 guias voluntários em atividade, todos treinados para oferecer segurança e suporte. O trabalho vai além da corrida. Muitos participantes relatam mudanças significativas na saúde, autoestima e socialização. É o caso de Eliane, de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, que perdeu dez quilos e deixou de tomar medicação depois de três anos participando do grupo. Os próprios guias também se beneficiam, ao encontrar no voluntariado uma forma de cuidar da própria saúde mental e superar desafios pessoais.
Os treinos coletivos acontecem em diferentes pontos do Rio, sempre com atenção à segurança e acessibilidade. O instituto também promove o “treino às cegas”, em que novos voluntários correm vendados para entender na prática a confiança que o atleta precisa ter no guia.
Sem patrocínios ou apoio público até recentemente, o instituto segue firme e agora busca expandir sua estrutura, incluindo sede própria, monitores e profissionais de educação física, além de psicólogos. A ideia é ampliar o alcance e oferecer ainda mais apoio a quem quer participar. Para Paulo, o instituto se baseia em confiança, cuidado e superação:
“Correr não é só atravessar a linha de chegada. É criar um espaço em que todos se sintam capazes de ir mais longe, com apoio e segurança. Ninguém precisa correr sozinho”.






