Por Pedro Pirim, cofundador da Voz Futura
O que significa ser suficiente em uma sociedade onde ser o melhor é a única meta que interessa?
Esses dias lendo um post da Vida Simples sobre “A liberdade de ser comum” me peguei pensando que a maior revolução do nosso tempo talvez seja a de aprender a ser suficiente em um mundo e mercado onde estamos sendo constantemente programados para sermos sempre o melhor. Mas quais são as consequências disso? Ainda mais em um mundo inundado por posts performáticos – qual é o limite? Qual é o nosso limite? Qual é o seu limite?
A gente cresceu ouvindo que precisava ser “o melhor”. O melhor aluno, o melhor funcionário, o melhor namorado, o melhor amigo, o melhor pai, a melhor versão de si mesmo. Mas como que eu sei qual é a minha melhor versão se eu não sei nem em qual versão eu estou agora? Eu vivo, ou tento viver dentro de uma lógica de “todo dia um pouco melhor”. Mas confesso que pode se tornar bem cansativo. Tem dias que eu quero ficar pior mesmo e aceitar que não estou no meu melhor.
O curioso é que ninguém nos ensinou o valor de simplesmente ser suficiente. E que ser o suficiente é bom. Não no sentido moral tipo “bom moço” mas no sentido humano. De apenas ser.
Ser suficiente é acordar um pouco atrasado, mas ainda assim chegar. É responder metade dos e-mails, mas responder bem. É saber que o jantar não ficou incrível, mas que foi feito com o que tinha disponível. É saber também que você não vai estar disponível o tempo todo. É se permitir parar, respirar e dizer: “Hoje eu fiz o possível.” E o possível é suficiente.
O problema é que a lógica do “nunca é o bastante” foi terceirizada pra dentro da gente. Ela mora nas nossas notificações, nos nossos feeds e nos discursos de produtividade maquiados de inspiração. Literalmente maquiados por filtros muitas vezes. A gente mede o sucesso pelo “a mais”: mais curtidas, mais metas, mais entregas, mais títulos, mais diplomas, mais tudo. E se tudo é sempre mais, nada nunca é o bastante.
Ser suficiente hoje ao meu ver é dizer “não” pra comparação, “não” pra pressa, “não” pra culpa. É aceitar que o que você é, hoje, agora, já dá conta. Que o amor que você oferece é o que cabe. Que o trabalho que você fez foi o possível com o tempo, a mente, a disposição e o corpo que você tinha. E o mais bonito é que, quando a gente entende que ser suficiente é bom, descobre que ser bom é ser suficiente. Porque o “bom” verdadeiro não precisa provar nada. Ele é. Assim, simples, imperfeito, inteiro.
Talvez seja isso que a gente precise quando fala em ter paz, de foco, e encontrar nosso propósito. Entender que nem sempre precisa ser algo incrível. A paz não está em fazer mais, mas em dizer pra si mesmo: “Eu não preciso fazer mais pra me sentir válido”. O foco não é olhar só pra frente, mas pro que já está aqui – disponível. E o propósito da vida, no fim das contas, pode ser só isso: continuar sendo… suficiente.
PS: Esse texto foi escrito com base apenas no que eu estou sentindo agora. Mas não é bem assim no dia a dia. #prontofalei


