Por Igor Monteiro, consultor de aprendizagem corporativa e especialista em design instrucional.
Em algum momento da sua infância/ adolescência, é provável que você também tenha ouvido uma frase como:
“com dedicação e trabalho duro, você pode se tornar o que quiser!”
Àquela altura da sua vida, ainda novo(a), essa injeção de ânimo parecia realmente fazer bastante sentido. Me lembro de ter abraçado forte essa frase, dita pelos meus pais, na confiança de me tornar um jogador de futebol. Mais precisamente um zagueiro.
Não deu certo… E sim, pode ter sido falta de dedicação e trabalho duro em alguma medida. Mas desconfio que faltou mais do que simplesmente consistência.
Uma pesquisa divulgada em 2025 pela agência de pesquisas de mercado RWB parece indicar que eu não fui o único iludido em alguma fase da minha pela fórmula de dedicação e trabalho duro como caminho inegável para o sucesso.
Foram mais de 2000 pessoas ouvidas. Quase 60% dos homens entre 25 e 34 anos que responderam ao levantamento acreditam que poderiam ter sido jogadores de futebol profissionais em ligas de elite se tivessem realmente se dedicado e recebido a oportunidade certa.
Sim, ainda somos o país do futebol. Mas, seja nas carreiras esportivas ou corporativas, parece haver um elemento determinante a ser considerado nessa fórmula.
As zonas de talento
Don Clifton (1924-2003) foi um psicólogo, pesquisador e educador norte americano, reconhecido globalmente como o pai da psicologia dos pontos fortes.
O ponto de partida de seus estudos foi a inversão de uma lógica mais tradicional na abordagem da psicologia. Enquanto seus pares profissionais pareciam se dedicar ao estudo de disfunções e problemas enfrentados por alguns indivíduos e grupos, Clifton resolveu estudar porque algumas pessoas alcançaram um notável sucesso em suas vidas e carreiras.
A partir dessa nova abordagem, dedicando décadas à pesquisa, Clifton e sua equipe identificaram 34 padrões recorrentes de pensamento, sentimento e comportamento que parecem ser essenciais para o sucesso em diferentes papéis e áreas da vida. Eram as 34 zonas de talento, ou temas de talento. E essas personalidades de sucesso, consideradas em suas pesquisas, pareciam ter exatamente um talento destacado para o desempenho de competências e habilidades associadas a alguns desses temas.
São temas relacionados à capacidade de execução, como Organização, Imparcialidade e Prudência; outros alinhados com as habilidades de estruturar planejamentos estratégicos, como Intelecção e habilidades Analíticas; alguns associados à construção de relacionamentos, como Harmonia, Empatia e Adaptabilidade; e mais uma lista de temas relacionados à influência, como Comunicação e Carisma.
Você pode ver a lista completa – bem como a definição de cada tema – aqui no link.
As observações de Clifton viraram em definitivo o jogo do desenvolvimento humano ao reconhecer que cada indivíduo, por fatores associados a sua personalidade, apresenta talentos muito próprios e destacados. Inclinações pessoais a excelência em competências bem específicas – e que são os nossos potenciais pontos fortes.
Do talento ao Ponto Forte
Se você, assim como eu, estudou em uma escola mais tradicional, vai se identificar melhor com o exemplo a seguir.
O boletim daquele bimestre apresenta sua média para cada matéria.
Estão por lá uma nota 9 em Português e uma nota 4 em Matemática.
O que seus pais e professores te orientaram a estudar com mais dedicação para o próximo bimestre?!
Aposto que Matemática.
Afinal, havia uma média final a ser alcançada para ser aprovado(a) à próxima série. Com aquele 9, você estava mais próximo(a) à média final de Português, mas precisaria dar atenção à Matemática para não reprovar.
Do ponto de vista de alcançar a tal média e passar de ano, essa é a abordagem realmente mais lógica. Agora, com as lentes das pesquisas de Clifton, vale repensar esse caminho.
Imagine agora um profissional com evidente talento de Comunicação. Uma habilidade natural, para a qual ele nunca tenha de fato se dedicado. Alguém com desenvoltura natural para conduzir apresentações, facilidade de materializar suas ideias e torná-las claras e engajadoras para as pessoas a sua volta.
E se esse profissional decidisse dedicar mais tempo e atenção ao desenvolvimento justamente das suas habilidades na Comunicação? Algo como optar por se dedicar ao Português, naquele exemplo que falamos da escola.
Para Clifton, essa seria a estratégia ideal para tornar o seu talento um Ponto Forte. Uma abordagem capaz de posicionar esse profissional como uma verdadeira referência a partir das suas competências enquanto comunicador.
Adequando a equação
As pesquisas de Clifton no Instituto Gallup inevitavelmente derrubam aquela dose de motivação irreal que alguns de nós recebemos na infância e que abordei no início do artigo:
“com dedicação e trabalho duro, você pode se tornar o que quiser!”
Se o caminho não é exatamente tornar-se o que quiser, as pesquisas indicam uma estratégia interessante para se destacar. Alinhar o talento à dedicação e ao trabalho. Lapidar essa habilidade inicial de forma a torná-la um ponto forte. Empenhar-se para virar uma verdadeira referência na direção que as aptidões parecem, de alguma forma, apontar.
O ponto de partida é descobrir a zona de talento. No meu caso, não foi como zagueiro.
E, aqui, na sessão Conteúdo, Experiência, Pessoas + Redes, eu te conto por onde começar.
Conteúdo, Experiência, Pessoas + Redes
Espaço dedicado a sugerir a você mais conteúdos, experiências e pessoas + redes para você se aprofundar no tema de cada texto – prática que copiei do Conrado Schlochauer.
Conteúdo:
- Livro: “Descubra seus pontos Fortes”, do Instituto Gallup, organizado pelo autor Tom Rath. Baseado nas pesquisas de Don Clifton, o livro aprofunda a tese dos temas de talentos e sobre como transformá-los em pontos fortes, comentada aqui no artigo, apresentando melhor cada um dos 34 talentos mapeados pelas pesquisas de Clifton.
Experiência
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Pessoas + Redes
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