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Em trânsito: Boas Histórias sobre Bons Exemplos

Em trânsito: Boas Histórias sobre Bons Exemplos

Propósito é só uma palavra bonita para um sentimento difícil chamado angústia.

Por Pedro Pirim Rodrigues, cofundador da Voz Futura.

Não sei se vocês já ouviram o podcast Diary of a CEO, que começou para ser, de fato, o “Diário de um CEO” e acabou virando um programa de entrevistas super legal em que o Steven Barlett (empreendedor e apresentador) traz histórias de pessoas interessantes, de todas as sortes, para contar suas histórias, desafios, aprendizados. Ele tenta sempre trazer um ângulo diferente. Alguma coisa que a gente ainda não tenha visto antes sobre aquela pessoa ou aquele tema. Ele também vai selecionando os entrevistados, ao meu ver, de acordo com o momento dele na vida. Então em alguns momentos ele está mais focado em falar sobre saúde mental, em outros sobre alimentação saudável, depois sobre bem-estar, relacionamentos e por aí vai.

Quantas vezes eu já vi isso acontecer com diferentes tipos de negócio. As marcas amadurecem junto com seus fundadores, empreendedores, diretores, e vão ganhando novas formas e contornos de acordo com o que eles estão sentindo naquele momento. É muito difícil fazer essa separação para o empreendedor – o que é dele, o que é da marca e o que é do mundo. Porque necessariamente o que ele criou para o mundo é dele também, inclusive a própria marca. Eu vi isso acontecer mais de perto com a Reserva, empresa em que trabalhei. A marca começou de um jeito, as roupas eram uma coisa, as lojas também, e ao longo do tempo, com o amadurecimento dos sócios e seus fundadores, ela foi virando uma outra coisa

Além da Reserva, isso aconteceu, e ainda acontece, na Apple, na XP, no The News e em tantas marcas e empresas que admiro. Apesar de tantas mudanças ao longo dos seus anos de vida, tem uma coisa que permanece – a verdade dos seus fundadores. Eles cantam a mesma música desde que começaram, mesmo depois de saírem, ou serem expulsos, de suas próprias empresas. A coisa que eu vejo em comum entre eles todos, para além das suas verdades: Eles usam a própria história, seus arcos narrativos e jornada do herói desde o momento em que começaram até os seus auges.

À medida em que vão avançando em seus negócios, passando por desafios e conquistas, vão adicionando novas camadas e capítulos, mas eles sempre, invariavelmente, se mantêm fiéis as suas histórias. O Steve Jobs colocou isso de forma maestral no seu famoso discurso “Connect the Dots” (https://www.youtube.com/watch?v=UF8uR6Z6KLc ). O Rony fala do seu início vendendo roupa de um porta mala de carro e depois da primeira loja de 50m2, o Guilherme do fato de ter vendido seu carro para conseguir investir no próprio sonho e do primeiro escritório de 25m2, o Steve Jobs do início na garagem dos seus pais, o Steven Bartlett do seu quarto espremido entre uma escrivaninha e uma máquina de lavar enferrujada. (Lembrei agora também do pessoal da Biruta – agência de marketing – que falava que tinha começado de dentro de um banheiro – é verdade). Dentro do arco narrativo, o que esses caras fazem de forma brilhante é trazer o visual tátil de um início “apertado” em algum espaço até terem se tornado gigantes.

Agora, o que eu acho mais incrível é como eles fizeram isso. Porque eles não deixaram para contar essa história quando obtiveram sucesso. Eles contaram sempre e foi a partir dessa história, desse lugar de dificuldade, apertados, que eles saíram para desbravar e “conquistaram o mundo”. Eles contaram as suas histórias enquanto as construíam. O Hernane Ferreira, do The News, começou um podcast antes da empresa em que ele narrava os desafios enquanto eles apareciam e convidava as pessoas a acompanharem a sua jornada enquanto a construía e avisava que “lá na frente” ele e seus ouvintes – ou legião de fãs que ele estava começando a formar – fariam parte daquela história também. (Uma coisa meio Jesus Cristo – risos – porém sério). O Steven Bartlett, sobre quem eu comecei falando, fez basicamente a mesma coisa. Começou o seu podcast, que hoje é um colosso, narrando a sua própria vida, sozinho, em um “quarto escuro”, falando de dificuldades de empreender e ter um relacionamento saudável com o mundo e outras pessoas, até que… enfim.

Faço muita questão de dizer e repetir que o caminho para empreender não é nada romântico. A gente romantiza pra tentar deixar as coisas um pouco mais leves. Mas ontem, enquanto eu estava me esforçando muito para curtir um samba com a minha namorada e amigos, um cara que estava com a gente me puxou e disse: “Empreender é foda né, irmão” (com um sotaque bem paulista – ele é empreendedor também. Só que paulista – hehe). Eu não faço a mais pura ideia porque ele me falou aquilo naquela hora, mas… ele tem razão.

Escrevo para mim, e agora pra vocês, do conforto externo que a minha casa proporciona, mas do meu desconforto interno com o mundo, com as suas injustiças sociais e com todas as coisas que precisamos trabalhar para mudar, fazer diferente e melhorar daqui para frente. O meu “quarto escuro”, “cubículo”, “loja”, “garagem”, ou “espaço apertado” vem de dentro de mim. De uma angústia pessoal muito grande ligada a comunicação (e a falta dela), que faz com que todos os dias a gente se engaje pelo trágico e pela agressividade nas mídias sociais e tradicionais.

Desde que eu fui para a faculdade de jornalismo e não me conformava com o fato da nossa sociedade se deixar pautar pelos maus exemplos mesmo sabendo que tem tanta gente boa no mundo. O mesmo cara do samba de ontem me perguntou o que eu fazia para lidar com as notícias que traziam para ele insegurança diante de um mercado “noticiadamente” instável. Eu respondi: “A gente criou a nossa”. Criamos o nosso veículo de comunicação, a nossa produtora de conteúdo. Então, o que a VOZ Futura faz, quando me perguntam? A gente conta boas histórias, sobre os bons exemplos no mundo. Esses que devem servir de espelho e inspiração para construir um mundo e um futuro melhor. Para que uma criança com menos oportunidades olhe e pense: “Eu posso sonhar, posso ser visto, reconhecido, chegar lá e ter um futuro digno”. É só isso que quero.

E para os professores que me desencorajaram a fazer isso, aos que passaram por nós e disseram que ficamos malucos, pode ser que a gente tenha ficado mesmo. Mas em um mundo tão maluco, talvez a gente precise ser ainda mais, para acreditar de fato que realmente pode provocar uma mudança estrutural e social, assim como os empreendedores que citei aqui e tantas outras que tenho em mente como exemplo e inspiração. Esse é só o começo de uma longa jornada que se inicia de um lugar nada romântico. Como sempre digo: “Propósito é só uma palavra bonita para um sentimento difícil chamado angústia”.

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