Por Igor Monteiro, consultor de aprendizagem corporativa e especialista em design instrucional.

Aconteceu há algumas semanas, num domingo despretensioso, ali pelo meio da tarde.
Eu e Vanessa, minha esposa (olha ela de novo aqui na minha coluna), fomos ao musical “Djavan: Vidas para contar.” A história da vida do cantor e compositor, embalada por suas músicas mais conhecidas.
Aliás, uma peça fantástica. Recomendo!
As luzes da plateia começavam a se apagar e soava o terceiro e último sinal do teatro. Começavam os avisos tipicamente anteriores a abertura das coxias – saídas de emergência; agradecimento aos apoiadores do espetáculo; algumas propagandas de patrocinadores.
No meio dos informes, um raro convite – “desligue os celulares!” Gravar e reproduzir trechos da peça são proibidos”. Houve até quem quebrasse essa regra, mas nós a seguimos.
Seguimos para viver com presença aquela experiência!
Você certamente pagou por alguma experiência nos últimos meses. Algum hotel recomendado por uma influenciadora que elogiava a vista e o atendimento. Algum restaurante contemporâneo, pratos elaborados que apareceu como indicação num reels, enquanto você rolava o feed do Instagram. Algum passeio a um ponto turístico em meio a natureza, próximo a sua cidade, visitado recentemente por um influenciador de viagens.
Pagamos também naquele dia, quando compramos as entradas na peça.
Aliás, vivemos a era em que experiências são potentes argumentos de venda – e, claro, funcionam bem nesse propósito.
Experiências que compramos – mas, nem sempre, vivemos.
Isso porque, para que uma experiência, de fato, nos toque, é preciso fazer antes uma interrupção.
Um parar para sentir. Olhar. Escutar. Pensar. Processar.
Um parar para estar realmente presente.
É preciso desligar o celular. Desligar-se do celular. Desconectar-se para conectar.
No Mundo das contradições em que vivemos, tenho a impressão de que nunca se vendeu tanta experiência – e nunca se experimentou tão pouco.
A impressão de que estamos todos divididos. Um olho aqui outro na tela. Um pensamento aqui outro no que estão pensando sobre mim.
E estar dividido é não estar.
O super poder da presença
Mergulhados no mar de possibilidades dopaminérgicas oferecidas pelas telas hiperconectadas que roubam nossa atenção aonde vamos, nos tornamos uma multidão de distraídos.
Uma distração que se manifesta individualmente de incontáveis formas.
Você por aí deve ter a sensação, vez ou outra, de se esquecer o que estava fazendo há poucos segundos, não é? Ou, chegar a determinado lugar, físico ou virtual (a página do Netflix, um site ou sua rede social, por exemplo) e se perguntar: ‘o que eu vim fazer aqui mesmo?’
Há ainda aqueles que, praticando a distração, se envolvem recorrentemente nas conversas desatentas – um clássico dos nossos tempos.
Acontece mais ou menos assim: um dos envolvidos abre a conversa falando:
- ‘assisti a um filme incrível esse final de semana!”.
A resposta, do outro lado:
- “nossa, também vi um filme maravilhoso no sábado!”.
Um (des)encontro de desatentos empenhados em falar o que fizeram – e nunca em ouvir.
Enquanto experiências estão à venda, por todos os lados, há ainda a série de aplicativos disponíveis que te prometem uma sonhada conveniência: a economia de tempo. Gerenciadores de tarefas, apps para você fugir do trânsito ou pedir sua comida sem ter que ir a um restaurante ou ligar para um. (alguém ainda liga para um restaurante?)
A equação parece lógica: uma comodidade para que, com mais tempo, você possa investir e viver mais experiências. Mas, a conta não fecha. No mundo das contradições, sobram promessas de produtividade – mas falta tempo.
Não fecha pois há ainda uma outra variável. Essa sim, mais escassa que o tempo. Falta atenção!
A (difícil) escolha consciente e intencional de silenciar as distrações incontáveis ao redor e estar atento, agora, nesse instante.
Apreciar o prato preferido. Conversar sem olhar o celular. Acordar sem abrir o WhatsApp.
Há quem se refira à comunicação como a maior das habilidades humanas. Essa poderosa ferramenta que nos difere de todas as outras espécies. O meio fundamental para construirmos a realidade e as inovações que empreendemos individualmente e como espécie ao longo dos anos.
No nosso barulhento Mundo das contradições, a comunicação segue sendo a habilidade fundamental. É inclusive a essência do que pensamos na Voz Futura. Mas, para seguir transformando, deve agora ser necessariamente acompanhada desse outro super poder humano, desgastado no meio de tanto ruído.
A presença!
Aquela mesma, que entrou conosco no Musical do Djavan, num domingo despretensioso.
Conteúdo, Experiência, Pessoas + Redes
Como consultor de aprendizagem corporativa, e estudioso dessa arte do aprender, passo a inserir a partir dessa edição da minha coluna “Partilha” um espaço dedicado a sugerir a você mais conteúdos, experiências e pessoas + redes para você se aprofundar no tema de cada texto. Uma iniciativa que favorece a aprendizagem continuada – e que aprendi com o brilhante Conrado Schlochauer.
Conteúdo:
- Livro: “Valor Presente – A estranha capacidade de vivermos um dia de cada vez” (2020), do meu mentor e amigo Pedro Salomão. Pedro é especialista nesta nobre arte de viver o presente. Nesse livro, seu terceiro, ele nos convida a trocar a pressa pela velocidade e aprendermos a viver, com presença, um dia de cada vez. A frase no header da coluna de hoje foi extraída dessa livro.
Experiência
- “Por favor, pedimos que os telefones celulares permaneçam desligados durante a sessão”. Experimente seguir esse pedido feito na abertura da sua próxima sessão de teatro e/ ou cinema. E experimente a presença! Fica aqui minha recomendação de Djavan, o Musical – Vidas para contar
Pessoas + Redes
- Murilo Gun – empreendedor e palestrante, Murilo é um dos pioneiros da internet no Brasil. Com a Keep Learning School, impactou milhares de pessoas com seu curso de criatividade em 2020. Mais recentemente resolveu silenciar alguns ruídos do mundo e olhar para dentro. Em seu momento atual de carreira, desenvolve pessoas com suas palestras e cursos com um novo olhar sobre a importância da presença.