Por Pedro Pirim Rodrigues, jornalista e cofundador da VOZ Futura.
Recentemente, a Giulia, que trabalha comigo aqui na VOZ Futura, fez uma provocação e colocou a gente para escrever. Eu amo escrever. É uma das minhas formas de meditação preferida, mas nem sempre é fácil. De qualquer forma, uma das coisas mais legais que aprendi sobre a meditação nesses anos em que adotei a prática é que não devemos tentar controlar o nosso pensamento, e sim, “Deixar ir” (entre aspas porque é o nome de um livro que li recentemente e que recomendo bastante. Se tornou também um mantra para mim esse ano. Talvez essa seja a minha palavra para 2025. Mas esse é outro assunto e talvez venha em outro texto). Comecei a escrever de maneira aleatória. Então o que vocês vão ver aqui não é necessariamente um texto com início-meio-fim. (Sorry Giuca) Eu abracei o conceito de “deixar ir” e me deixei levar. Espero que vocês deixem também. Ou me deixem… Tipo o Brasil… Sei lá (kkkk)
Voltando, ou melhor, começando pelo título desse texto, eu quis escrever sobre ele para vocês me conhecerem e também porque à medida que escrevo também me conheço um pouco mais. É bonzão esse processo de autoconhecimento. Melhor ainda é ter amigas pra dar esses “tapas na cara” (também é ferramenta de autoconhecimento) quando te dizem coisas como essas, simples e honestas, quando você menos espera e isso vem como um choque de realidade para quem vive em um modus operandi, quase que 100% do tempo, de ansiedade. No caso dessa, especificamente, ainda vem com um algo a mais porque ela é minha mentora também. E se tornou por afinidade, de forma espontânea. Eu não a convidei pra me mentorar. Mas, de forma orgânica nas nossas conversas sobre vida, trabalho, relacionamentos, ela sempre me traz uma grande dose de sabedoria e aprendizado.
Quando ela falou essa frase, eu ri, mas foi um riso de nervoso – que talvez tenha sido o riso do Vini Jr. no banco de reservas do Real Madrid (não sei, não vou entrar na polêmica, mas pensei nisso enquanto escrevia, e eu faço muito disso – minha cabeça viaja, eu perco o foco, mas depois eu prometo que volto. Às vezes não.) Quem me vê por fora acha que eu transbordo segurança e alegria. E é verdade, ou justo que pensem isso, já que uma boa parte do tempo eu estou sempre sorrindo, falando com convicção, gesticulando de forma firme. Mas, é verdade também, que existe uma outra boa parte dentro de mim que está constantemente chorando. (eu fiz um paralelo aqui entre sorrir e chorar só como forma de ilustrar a dicotomia interna em que vivo, mas a real é que tem muitos outros sentimentos misturados por aqui, por dentro e por fora)
Nós somos todos misturas, recortes de referências daquilo que vemos e gostamos, espelho daquilo no qual nos projetamos, e eu tento muito ser eu mesmo, mesmo sabendo que o “eu mesmo” são muitos em um só.
O bom de ser muitos é que consigo fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Tá aí uma parte do meu “eu feminino” da qual me orgulho. Só que é bem cansativo e quando eu fico cansado me vejo entrar no automático e perco de vista a grandeza na sutileza de tudo que posso entregar. E quando eu me entrego, me entrego de verdade, inteiro. Nunca pela metade.
Tive uma chefe uma vez que me falou: “Pirim, pra eu entrar em uma banheira com água, ela precisa estar quente pelando ou fria congelando. Morna pra mim não serve. Por que sabe o que acontece? Na água morna a gente se acomoda. Porque é gostoso mesmo ficar lá. A gente perde a hora, o tempo passa, e a pele enruga, amolece…”. Eu não sou contra a água morna, calma… Antes que venham os defensores da água morna me criticar. Mas é que para esse caso fazia muito sentido e foi algo que me identifiquei bastante na relação: Me entregar / ir com tudo / quente pelando x frio congelando. Na minha cabeça, fez sentido.
Eu tenho bastante disso dentro de mim. Ir com tudo. Assumir riscos. Claro que são riscos calculados e tomados com altas doses de responsabilidade. Mas a gente sabe que a prática é muito diferente da teoria. A teoria está sujeita a interpretações e a prática sujeita a imprevistos. A teoria e a prática de mãos dadas são ótimas formas, diferentes, de encontrar explicações com mais ou menos riscos. No limite é tudo incerto e meio torto. Tolo é quem pensa que vai encontrar razão na teoria e certeza na prática. E empreender é assim, e por ser essa a sua natureza, incerta, gera bastante ansiedade. (ufa… cheguei no ponto que queria chegar)
Em um mundo no qual se fala muito de trabalhar com propósito, está errado quem pensa que existe um lugar ideal de realização dos sonhos sem dor. Eu costumo dizer que “propósito” é só uma palavra bonita para disfarçar um sentimento difícil chamado “angústia”. A angústia está ligada a uma dor que sentimos e queremos resolver.
No meu caso, a minha angústia é acordar todos os dias e ver uma mídia, tradicional e/ou “social”, reverberando conteúdo destrutivo, enquanto existe tanta história boa pra ser contada, e por isso decidimos fazer aqui na VOZ, conteúdo construtivo. Mas, é um caminho longo, difícil, e que, assim como tantos outros trabalhos, também gera ansiedade.
E, por mais grandioso que seja tudo que estamos fazendo, minha cara amiga Leila… às vezes, eu esqueço. Então obrigado por me lembrar. Obrigado, Giuca, por me provocar e me convidar para escrever. Espero voltar aqui mais vezes para dividir pensamentos, angústias, mas principalmente para lembrar vocês do que a minha amiga e mentora me lembrou:
Permitam-se ver (e sentir) o quão grandioso é tudo que vocês estão fazendo.