Por Pedro Pirim Rodrigues, cofundador da Voz Futura
Gosto de livros que me fazem pensar, que me tiram do eixo, que me fazem cair, perceber e evidenciar as contradições humanas. Na “Insustentável leveza do ser”, Milan Kundera já abre o livro com uma provocação que me deixou assim. Entre os eixos que nos sustentam e os pólos que nos posicionam, temos o incrível hábito e habilidade de classificar as coisas entre bom e ruim, bem e mau. Costumamos atribuir a leveza a algo bom enquanto o pesado a algo ruim. Mas o que o autor traz é uma visão diferente da qual gostei e queria dividir com vocês. Por que o pesado é ruim e o leve é bom? Precisa ser sempre assim, necessariamente?
O pesado é o que traz concretude, sentido, materialidade pras coisas. É o que torna as coisas palpáveis, palatáveis, tangíveis. E senti-las, pode ser bom! Por que não? Ao mesmo tempo que o leve, tido sempre como bom, também pode significar algo sem pegada, leve de mais a ponto de se tornar leviano, raso, desinteressado, desinteressante. Que passa e vai, não fica, não cria raiz. É passageiro. Insustentável. Assim como a leveza do ser que dá título à obra.
E daí pensando sobre todas as contradições que nós mesmos criamos, lembrei de uma máxima da sociedade que diz que “tudo que é bom dura pouco”. Mas eu nunca entendi se esse dito popular continha ironia ou não. Vocês sabem? Ou criamos esse ditado a fim de sucumbir aos pequenos prazeres efêmeros que vivemos, nos breves momentos de descanso, férias, refeições com namoradas, namorados, familiares, amigos , em contraposição a maior parte do tempo que passamos trabalhando e que por isso classificamos como ruim, ou chato. Ou seja, de fato, se eu passo a maior parte do tempo fazendo algo que eu não gosto, vou começar a acreditar que o que dura muito é ruim e os momentos de descanso, que duram pouco, é que são bons. Daí “tudo que é bom dura pouco”
Mas, por exemplo: sexo que é bom dura pouco? Relacionamentos, amores, refeições, descanso… seriam bons se durassem pouco? Acho que não. Né?
Tenderia a achar então que o que é bom dura muito. Ou estaria eu caindo na própria contradição e mania de querer classificar tudo como bom ou ruim voltando ao que falava no início do texto? Porque ao mesmo tempo sempre acho que a vida é curta demais pra fazer tudo que gostaria, por isso tento aproveitar ao máximo. E nesse aspecto, a breve vida que vivemos aqui, com a infinidade de possibilidades que temos de coisas pra fazer é boa. É ótima. É excelente. É perfeita. Assim como a natureza. Que por sua vez tem o seu próprio tempo pra cada coisa. Então como saber o quanto é pouco ou muito? Cada coisa parece ter o seu próprio tempo. Sem juízo de valor.
Por outro lado, olho pra vida e dentro dessa mesma infinidade de possibilidades sinto que tenho tempo pra tudo. Mas o que acontece é que esse tempo é circunstancial. Nesse exato momento, por exemplo, estou sentado de frente pro mar, observando as árvores, sentindo o vento, vendo gaivotas e barcos flutuarem. E esse tempo parece não passar. É tempo que dura. Tempo que é ótimo. Queria viver nesse momento pra sempre.
Então me juntando humildemente aos pensamentos de Kundera, contribuo com a minha singela reflexão sobre o que é bom ou ruim, pouco ou muito, rápido ou devagar, leve ou pesado. Sem necessidade de responder a ela. Simplesmente abrindo espaço para a provocação, reflexão. Porque nem tudo precisa de sentido ou resposta. Às vezes o sentido está em apenas sentir. Assim como ser está em apenas ser. Sem necessidade de mais ou menos. Na nossa capacidade de ser, sentir e pensar, isso aqui passa a ser apenas um convite a pensar, refletir e deixar ir. Como no estado meditativo em que me encontro agora. Contemplando, respirando, vivendo e só. Ou não importa tanto o tempo que passamos mas sim a qualidade tempo que vivemos.


