Por Pedro Pirim Rodrigues, cofundador da Voz Futura
Eu adoro as pessoas que são assumidamente feitas de contradições e que sabem olhar pra isso de forma honesta, com bom humor, auto ironia e como ferramenta de autoconhecimento. Sabem que o “atestado de maluco” é muito melhor do que o “atestado de hipocrisia”. Porque no limite é todo mundo um pouco maluco por dentro e isso deveria ser celebrado, se visto como uma qualidade e desde que não fira ninguém. O tal do “maluco beleza”.
Se assumir contraditório no mundo de hoje significa, ao meu ver, que você entende que o mundo não precisa ser ultra-polarizado como está. Você pode ser um cientista, cético, mas fazer mapa astral, mesmo que seja só para se divertir. Você não precisa escolher um lado ou uma versão sua para focar ou para se assumir como único. Você pode entender que o que te faz único na verdade é ser múltiplo. Gosto desse tipo de gente – os “multiplicadores”. Gente que agrega, que pensa no coletivo, que entende que para cuidar do outro precisa também cuidar de si, mas nunca abre mão do social porque sabe que ele é parte de um todo muito maior do que somente ele, apesar de ser um universo inteiro que poderia bastar-se em si, mas todos os dias escolhe ir além. Mesmo quando se encolhe, vai além de si para dentro.
Converge, conversa, conforta, contribui… Esses me encantam. São aqueles que entram em uma sala e fazem o ambiente crescer. Não drenam, não sugam, não competem o tempo todo, não precisam ser o centro de tudo. Eles somam ideias, dão o crédito, reconhecem o outro, compartilham oportunidades. Entendem que sucesso não é um jogo de soma zero. Quanto mais gente cresce ao seu redor, mais o mundo se expande. O multiplicador não opera pela escassez, mas pela abundância. Não no sentido místico barato, mas no entendimento profundo de que as relações humanas mais fortes geram impacto real. São pessoas que deixam rastros bons por onde passam.
Esse tipo de gente não depende ou precisa que tudo dê certo o tempo todo para ter paz de espírito. Até porque essa necessidade é só uma forma de querer controlar a tudo e a todos, enquanto perde o próprio controle. Maturidade e crescimento vem com a capacidade de navegar até mesmo pelas instabilidades da vida. Seja por Epicteto ou Jean-Paul Sartre, a máxima é a mesma: “O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você e não exatamente o que aconteceu com você” (eu ajustaria alguns pontos dessa frase, mas não vou entrar nessa agora).
E é justamente nessa capacidade de navegar pelas instabilidades que aparecem outros tipos de gente que me interessam profundamente. Gente que não se encaixa fácil em rótulos, mas que sustenta a própria complexidade sem pedir desculpas por isso. Gente que entende que coerência absoluta é muito mais pose do que verdade. Gente que muda de ideia, que se questiona, que se contradiz, mas não por oportunismo, e sim porque continua em movimento. Entende que pra evoluir precisa se questionar. São pessoas que não pararam no tempo para agradar um núcleo, uma plateia ou um grupo. Elas sabem que crescer dói, confunde e cria uma zona completa. E tudo bem. No fundo, são as mais honestas que conheço, porque preferem lidar com a própria incoerência, mudar e evoluir a partir daí do que morrer abraçada com suas falsas convicções.
Entre contraditores e multiplicadores, lembro e não poderia deixar de fora os pacificadores. Não os passivos que confundem paz com silêncio (até porque o próprio silêncio pode ser uma forma de agressão), mas aqueles que sabem atravessar os conflitos sem botar fogo no parquinho. São pessoas que entendem que nem toda batalha precisa ser vencida e que nem toda verdade precisa ser conquistada na base da porrada. O pacificador não foge a luta, mas encontra o tom. E esse tom se chama: Conciliação. Ele escuta antes de responder. Sustenta o discordar sem precisar romper. É uma pena que em tempos radicais e extremos, eles parecem até ingênuos. Mas na verdade são sofisticados emocionalmente. (Dá trabalho ser ponte… Mas essa turma ta sempre tentando)
Vim escrevendo sobre isso porque tenho pensado no tipo de gente que quero perto de mim pelo próximo ano, pelos próximos anos. E também tenho lido sobre as “blue zones” e o quanto as relações que cultivamos impactam diretamente a nossa saúde e processo de envelhecimento. E eu quero envelhecer bem. Com gente legal do meu lado. Por isso o meu brinde a 2026. Que vocês se encontrem no tipo de pessoa que vocês são e encontrem gente que te faz bem… Multiplicadores que se contradizem e pacificadores que brigam. Que sejam multiplicadores de coisas boas; que se contradigam com bom humor; e que comprem brigas que realmente valem a pena não em forma de guerra, mas em forma de paz.


