Para onde quer que você olhe, há quem subestime os perigos das redes sociais para crianças e adolescentes.
É desconfortável assistir à nova série da Netflix, Adolescência. Ela nos apresenta Jaime, de 13 anos, acusado de homicídio. A polícia tem provas contundentes contra ele, mas é difícil acreditar que um garoto cometeria um crime de ódio contra a colega de classe, Katie.
Esse é apenas um fragmento da história. No decorrer dos episódios, descobrimos os eventos que antecederam o crime. Entre eles, a falta de amparo para que os adolescentes usem a internet de forma segura. E não, essa responsabilidade não é exclusivamente dos pais.
A era digital permitiu que adolescentes tivessem acesso irrestrito a conteúdos de todos os tipos. Na série, a personagem principal se vê imersa em uma bolha online de influenciadores misóginos, que normalizam comportamentos violentos e moldam sua percepção de mundo. O enredo ilustra como a exposição a esse tipo de conteúdo pode impactar decisões e comportamentos na vida real, levando às consequências trágicas.
Segundo especialistas, algoritmos das redes sociais são projetados para maximizar o engajamento, frequentemente promovendo conteúdos polarizadores e radicais. Isso amplia a possibilidade de jovens entrarem em ciclos de reforço negativos, onde ideias perigosas são normalizadas sem questionamento crítico.
Diante deste cenário, vários países têm discutido formas de regulamentar as redes sociais para proteger usuários vulneráveis. No Reino Unido, a Lei de Segurança Online foi implementada para responsabilizar plataformas por conteúdos prejudiciais e exigir maior transparência nos algoritmos. No Brasil, o ‘PL das Fake News’ busca maior controle sobre a disseminação de desinformação e discursos de ódio nas redes. Alemanha, França e Itália já possuem leis que exigem a autorização dos pais para que adolescentes acessem as plataformas.
A série ‘Adolescência’ serve como um alerta sobre a urgência da regulamentação das redes sociais, um debate que precisa ser ampliado para garantir um ambiente digital mais seguro, prevenindo casos como o retratado na série.
Entre as soluções possíveis, está a implementação de maior educação midiática para jovens, responsabilização mais rigorosa das plataformas e desenvolvimento de ferramentas mais eficazes para o monitoramento de conteúdo nocivo.
“Como sociedade, precisamos de soluções concretas e coletivas: regulação das mídias, escolas promovendo encontros entre especialistas e famílias, psicólogos e psiquiatras mais conectados com a rotina escolar, e claro, educação social emocional para ajudar os alunos a lidarem com tudo isso.”
Antônia Burke – Diretora de Educação da Voz Futura


