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Em Trânsito: O que os fundadores da Netflix, Redbull, KFC e Dyson têm em comum?

Em Trânsito: O que os fundadores da Netflix, Redbull, KFC e Dyson têm em comum?

A graça de começar tarde.

Por Pedro Pirim Rodrigues, co-fundador da Voz Futura.

“Começar tarde” na verdade aos nossos olhos, da sociedade. Vejo muitos casos de pessoas que deixam de tentar por acharem que já estão “velhas demais para isso”.

Por que esse sentimento? 

Vivemos obcecados pela pressa. Aceleradoras de startup, metas de crescimento, “sucesso antes dos 30”, como se a nossa vida tivesse um prazo de validade para criar, produzir e realizar. Substituímos o desejo de colocar em prática algo que acreditamos em prol da pressa de resolver a vida mais cedo. Mas quando a vida se resolve? – Talvez você saiba a resposta, mas eu não vou falar em voz alta.  

Existe algo profundamente equivocado na ideia de que começar tarde é ruim.

Muitos empreendedores começaram depois dos 35, quando a sociedade já esperava que estivessem “seguros” financeiramente. Nos fixamos nas histórias e nos exemplos de empreendedores que ficaram ricos ou milionários muito cedo. Steve Jobs, Bill Gates, Mark Zuckerberg. São poucos exemplos frente a enormidade de histórias pouco contadas de pessoas que começaram “velhas”.

Por aqui, vou trazer alguns exemplos sobre empreendedores que começaram “tarde”, que se arriscaram, que tentaram e testaram muitas vezes e eventualmente acabaram acertando. É fato que empreender é uma questão de perfil. Não tem certo ou errado. Tem uma série de questões que giram em torno disso: perfil, contexto social, econômico, político, apetite por risco, privilégios, e tantas outras variáveis.

Mas, acho importante trazer visibilidade para casos relativamente improváveis e que acabaram funcionando. Quem sabe o próximo não é você? (só se quiser também)

James Dyson: Quem é o engenheiro que errou 5.126 vezes antes de acertar uma e se tornar bilionário?
Nos anos 1970, James Dyson se irritou com o próprio aspirador de pó: o aparelho perdia força depois de alguns minutos de uso. Curioso, ele desmontou tudo e percebeu que o problema não era o motor, mas o saco que entupia e travava o fluxo de ar. Inspirado (pelo aspirador – rs), Dyson imaginou o impossível: um aspirador sem saco.

O que parecia uma ideia simples levou 15 anos e 5.126 protótipos. Nenhum investidor acreditou. Nenhuma grande marca quis comprar a patente. “Dura demais, não dá lucro”, diziam. Dyson hipotecou a casa, abriu a própria fábrica aos 46 anos e finalmente acertou. Hoje, a Dyson Ltd. fatura cerca de US$ 8,9 bilhões por ano, emprega mais de 14 mil pessoas em 80 países, e é sinônimo global de inovação e design.

Reed Hastings: De uma multa de 40 dólares a um faturamento de US$ 39 bilhões. 
Em 1997, Reed Hastings devolveu uma fita de video da Blockbuster com atraso e pagou uma multa de US$ 40. Parecia irrisório. Mas daquele incômodo nasceu a ideia que mudaria a forma como consumimos séries e filmes. “E se existisse um serviço de filmes que não cobrasse multa, nem dependesse de prazo?” Hastings tinha 37 anos, era professor de matemática, havia servido no Peace Corps e já tinha empreendido em um negócio anterior. Mesmo assim, fundou a Netflix como uma locadora de DVDs pelo correio. Três anos depois, ofereceu a empresa à Blockbuster por US$ 50 milhões e ouviu um “não” debochado. (dizem que foi debochado para dramatizar a história). Hoje, a Netflix vale cerca de US$ 180 bilhões e fatura US$ 39 bilhões no último ano, com mais de 260 milhões de assinantes. Hastings não apenas fundou uma empresa; ele reinventou a forma como o mundo assiste, fala e pensa sobre cultura. Mas o que é importante dizer aqui é que levou tempo. Estamos falando de um negócio que foi fundado em 1997 e só começamos a conhecê-lo de forma ampla pelo menos uns 10-15 anos depois.


Dietrich Mateschitz: Você não sabe quem ele é, mas provavelmente já viu sua marca “voando” por aí (rs)
Nos anos 80, o austríaco Dietrich Mateschitz era executivo de marketing, cansado, com jet lag e uma rotina de voos intermináveis. Durante uma viagem à Tailândia, conheceu um tônico local chamado Krating Daeng uma bebida usada por motoristas e trabalhadores noturnos. Ele gostou do efeito, mas achou o sabor ruim. Com 40 anos, decidiu apostar em um líquido estranho: reformulou a receita, criou uma nova marca e lançou a Red Bull em 1987. A bebida foi ridicularizada. Nenhum distribuidor europeu quis vender. Mateschitz então criou o próprio estilo de comunicação: marketing de esportes radicais, atitude e risco. A aposta deu certo. Hoje, a Red Bull está presente em mais de 170 países e já faturou mais de €10,9 bilhões. Além da latinha, eles tem equipes de Fórmula 1, times de futebol e são donos de uma das marcas e eventos mais inusitados e criativos do mundo

Harland Sanders: Aos 65 anos, sentindo-se um fracasso, ele decidiu tirar a própria vida, mas ao escrever uma carta de despedida, começou a listar o que queria ter feito na vida e se deu mais uma chance.
Surgia o KFC.  Quando Harland Sanders começou a franquear o Kentucky Fried Chicken, já era avô. Tinha 65 anos, um histórico de empregos falidos e apenas US$ 105 por mês de pensão. Viajava de carro pelos EUA oferecendo sua receita de frango com 11 ervas e especiarias a restaurantes de estrada. Levou centenas de “nãos” até fechar a primeira franquia em Utah, em 1952. Aos 74, o “Coronel Sanders” já era um ícone global. Em 1964, vendeu o KFC por US$ 2 milhões (hoje, cerca de US$ 20 milhões) e manteve o papel de embaixador até morrer. Hoje, o KFC pertence à Yum! Brands, com mais de 25 mil unidades em 145 países e vendas globais acima de US$ 31 bilhões.

Então, quando é tarde demais para começar? 

Vivemos pautados pela sociedade do desempenho como descreve o filósofo Byung-Chul Han. E da sociedade do desempenho chegamos na sociedade do cansaço. Cansaço que vem de muitas vezes nem tentarmos. Vivemos num loop de urgência, onde a velocidade vale mais que profundidade e visibilidade vale mais do que aquilo que é substancial e concreto. Só que o tempo continua sendo o mesmo: o tempo biológico, criativo e emocional das ideias não se mede. É como falei no início e depende de uma série de variáveis. Mas o que queremos se temos vontade de empreender? Viver pensando no que poderia dar certo? Ou pelo menos tentar umas 5mil vezes como o Dyson antes de desistir?

Talvez uma das lições mais importantes desses empreendedores é que eles começaram tarde o bastante para saber o que não queriam. E isso é um tipo raro de sabedoria. 

Começar tarde, testar, errar, assumir o erro, corrigir, quase acertar, tentar de novo. Formas de pensar pouco aceitas pela sociedade que mira apenas naquilo que se dá por certo. 

Por aqui seguimos acreditando no nosso sonho. Não só pautados pelo que acreditamos, mas pelo que funciona de fato. Sonhar é uma grande responsabilidade. Já que é uma forma de transformar o imaginário em realidade.

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